domingo, 27 de dezembro de 2009

A HORA DO CONTRADITÓRIO

Considerações iniciais

Longe de querer falsear a realidade ou dizer-lhes coisas tortas sobre os acontecimentos, deixem-me tecer considerações sobre o momento vivido pela América Latina e, também, pelo Brasil.

Em recente palestra que assisti, ministrada por um membro nacional do Partido dos Trabalhadores (secretário de relações exteriores), pude perceber, não nas entrelinhas de sua fala, mas no que nela foi afirmado de fato, que a América Latina caminha para o socialismo. Lembro ao leitor, que este sistema de governo e de ideias foi abominado e esquecido pelo Leste europeu. Parece, então, que o que está em curso em nossa casa é nada mais nada menos do que a tentativa de reavivar um fantasma.

Para o discurso esquerdista, a crise financeira atual representa um golpe fatal no capitalismo, abrindo espaço para o socialismo, entendido como um regime econômico, político, militar e cultural. A crise tem como epicentro o centro mundial do atual regime econômico, político, militar e cultural, isto é, os Estados Unidos, e o seu capitalismo imperialista. Tal fato significa a perda de poder do vilão norte-americano em todas essas esferas. Assim, a ordem mundial fundada no pós Segunda Guerra e, mais precisamente, a partir da derrocada da União Soviética está em xeque. Dois caminhos são possíveis nesse cenário: o acordo ou guerra. Para as esquerdas latino-americanas, a guerra declarada é um mau negócio, pois a tecnologia e o arsenal militar dos Estados Unidos é o mais poderoso do mundo. Não obstante, um de seus principais braços são as FARC, grupo paramilitar que atua no continente com propósitos revolucionários, e elas próprias armam-se até os dentes, ficando a espreita dos acontecimentos. Note-se que o principal acordo entre as principais vertentes das esquerdas latino-americanas é o Foro de São Paulo, organização criada após o fim do comunismo na Europa, como forma de ressuscitá-lo na América Latina. Fazem parte desta organização tanto o PT quanto as FARC! Apesar disto, encarando a realidade, resta às esquerdas a luta pelo poder cultural, político e econômico, algo que o Foro de São Paulo também prevê e fomenta, estabelecendo diretrizes.
O plano cultural

No plano cultural, a “criminalização” dos movimentos sociais, entre eles o MST e a própria FARC, é alvo de denúncia das esquerdas, que reduzem a realidade a uma forma maniqueísta em que quem é contra esses grupos é contra os pobres e quem é a favor deles é favorável ao bem-estar social, logo, bom (cria-se, portanto, um inimigo-comum homogêneo, fortalecendo o discurso sectário das esquerdas) A menos que eu esteja louco, nunca passou pela minha cabeça achar que quem mata é bom, e que quem comete crimes é passível de ser louvado por tê-lo cometido em nome de uma suposta boa causa. Essa maneira de enxergar a realidade é nada mais nada menos do que ideológica, e, lembro ao leitor, a ideologia camufla a realidade, distorcendo-a. Na academia, apesar disto, pseudo-intelectuais e gente de toda ordem, moços ou velhos, com uma coca-cola na mão ou uma camiseta che-guevariana no corpo, aceitam e propagam o engodo de que o socialismo é um caminho, aliás, é o caminho para a América Latina, fazendo uma defesa veemente de Hugo Chaves, Evo Morales, Lula e companhia. Estão, sem saber ou sabendo, servindo a uma ordem que é contra o indivíduo e a liberdade, suas manifestações e implicações, ou seja, a defesa do indivíduo em relação ao totalitarismo das massas – ou “democracia das massas”. Neste aspecto, não me refiro à propriedade privada somente – baluarte da segurança econômica - , mas ao direito de livre pensar e agir, manifestações nocivas aos regimes autoritários e criminosos, que na realidade servem para instaurar uma realidade que beneficia a poucos, sustentando-os e enriquecendo-os, forjando uma ditadura dos privilegiados, leia-se da nomenclatura. Pensando bem, de certa forma ela já existe no Brasil, senão vejamos.

O plano político

No plano político, o projeto das esquerdas é dominar por completo o aparelho burocrático do Estado, mediante nomeações e acordos de camaradas. Tal projeto, quando implantado, e no Brasil ele já o foi, leva invariavelmente a corrupção e a inoperância dos meios de ação do Estado: saúde, educação, segurança e distribuição de energia, por exemplo. Faz parte do jogo político, por sua vez, as eleições, e por isso a inoperância do Estado é desculpada por três motivos principais: a “burocracia” (licenças ambientais e órgãos de fiscalização a caracterizam); a oposição (que joga contra os benefícios para o povo); e, finalmente, os projetos assistencialistas, afinal, é por meio deles que a população é induzida a pensar que os responsáveis pela sua miséria são na verdade os seus protetores e companheiros. Pense: após ser violentado por um sujeito de máscara você é auxiliado e ajudado por este mesmo sujeito, agora desmascarado, a receber ajuda e socorro, quem é o vilão? Não há dúvidas, a vítima é o povo. São justamente as políticas assistencialistas que servem como arma principal, ou como única arma, para que no plano político e cultural as reformas sociais sejam propagadas pela publicidade partidária com fins políticos, isto é, a tomada ou manutenção do poder. Ora, o patrimonialismo, verdadeira raiz dos principais problemas latino-americanos e, por extensão, brasileiros, continua a ser praticado, desta vez pelas esquerdas, como projeto delas próprias para se manterem na administração do Estado e dele usufruírem. Lembro ao leitor, a peculiaridade nisso é que os interesses partidários e pessoais para as esquerdas são tudo uma coisa só, pois à medida que o partido mantém-se no poder, dele podem fazer uso os seus membros e agregados.

O plano econômico

No que se refere ao plano econômico, cumpre anunciarmos a realidade sem vícios e noções arcaicas. Não se engane, o socialismo convive muito bem com a economia de mercado, mire-se no exemplo da China. Aliás, nunca houve uma economia 100% planificada, pois os países comunistas nunca a adotaram completamente, pelo simples fato de que seria inviável fazê-lo. Produção e preço são coisas determinadas pelo mercado, d’outra forma produzir e vender seriam atividades anárquicas, e nunca planejadas. Na economia de mercado livre, produção e preço são alto-reguláveis. Numa economia planificada, por sua vez, a produção é planejada pelo Estado, mas ela também atende as demandas do mercado, embora tais demandas sejam falsificadas. Não obstante, uma e outra forma de economia são de mercado. A primeira fabrica e vende produtos a um custo menor e variedade maior, pois a tecnologia e a concorrência são incentivadas. A segunda fabrica e vende produtos a um custo maior, e a oferta nem sempre é suprida, pois tecnologia e alto-regulamentacão não são incentivadas. No final da contas, alguém ganha como isso, pois do contrário seria inexplicável o surgimento de milionários russos ao fim do processo de derrocada da União Soviética. Como podem existir milionários numa economia planificada? Ora, em uma ou outra forma de mercado, capitalista ou “socialista”, objetiva-se o lucro, seja para os empresários – que reinvestem grande parte do capital adquirido, pois capital parado é capital perdido - ou para o Estado, partido e membros do partido. Portanto, não é necessário para que o socialismo seja implantado uma economia planificada, basta que setores da economia fiquem a cargo do Estado, o que está acontecendo em proporções consideráveis na Venezuela e também no Brasil, note-se o plano estatizante para o pré-sal. Eis o receio das esquerdas quando a questão são as privatizações, acusando-as em nome da soberania do país, ao passo que se desobrigam a tecer considerações sobre a soberania do consumidor. Falemos a verdade, qual serviço não melhorou no Brasil após as privatizações, livrando setores da economia de níveis estratosféricos de corrupção e inoperância? O contribuinte agradece não ter mais que arcar com o ônus do prejuízo.

Considerações finais
Em resumo, senhoras e senhores, no plano político e cultural, mas também no plano econômico e militar, o projeto socialista está em marcha na América Latina. E não se esqueça, não é a economia que rege todos os acontecimentos, pois o poder senhorio da nomenclatura socialista em nosso continente advém sobretudo das ordens política e cultural, o que já está bastante avançado.

O que dizer da “invenção do Brasil”, operação de marketing realizada pelos publicitários do Partido dos Trabalhadores com o intuito de preparar o terreno para “ações revolucionárias”, caso nas eleições O Partido saia derrotado e perca o poder – manifestação odiosa de domínio de uns sobre a maioria. Nessa tentativa de traduzir em novos significados o passado para o povo brasileiro, as conquistas anteriores a Lula são ofuscadas e desmentidas em virtude dos avanços extraordinários – faz-me rir – ocorridos em sua administração, ao passo que os erros ou crimes durante esses anos não são nem sequer mencionados ou são propositalmente desvirtuados – assim é que o mensalão foi uma tentativa de golpe orquestrado pelas elites, conceito abusado para definir os exploradores do povo (ainda bem que os burocratas do PT, Sarney, Collor e Calheiros não são elites, senão eu ficaria confuso, e minha idealização da verdade poder-se-ia ver constrangida ou desmentida pelos fatos e minha experiência!) Mas não, nesses anos em que eu, assim como o povo brasileiro, fui acostumado a não enxergar o óbvio, penso ter que continuar a manifestar meus sinceros agradecimentos a Lula, que controlou a inflação e pôs ordem fiscal ao nosso país (FHC), além de ser responsável direto por nós, nordestinos, comemos carne. Aliás, se o sul não o quiser, que tal dividir o Brasil? O Nordeste é uma região revolucionária por excelência mesmo. É certo que os burocratas do PT não controlarão todo o território nacional, mas o Nordeste, acostumado a exploração, eles poderão gozar – eu deixo!) Mas eu NÃO!!!

É meu caro, na contracorrente do pensamente, cuide de seu jardim, antes que nele você seja o próximo a servir como adubo ou a pastá-lo.

Viva a DEMOCRACIA de FATO!!!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Eu, Heroi.




Esses dias eu fui, mais uma vez, modificar minha descrição no ORKUT. Foi nessa hora que eu empaquei. Era uma questão simples, mas que se tornou extremamente complexa, principalmente devido aos meus últimos momentos. A questão, que me jogou no meio de um turbilhão de reflexões e ponderações, foi simplesmente:

Quem sou eu...?

Creio que, cedo ou tarde na vida de todos, esta questão surge, e surge com grande gravidade. É, sem medo de exagerar, a maior questão que o ser humano já se propôs, e que até hoje não pode ser respondida com simplicidade. Não é como responder: Qual sua cor favorita? Violeta! Qual fruta você mais gosta? Morango! Qual seu time predileto? E por aí vai...

Não, esta questão não é simples. Definir-se não é fácil. Muitos podem até dizer, a nós, quem somos, ou o que somos. Mas é fácil para quem está de fora de nossa cabeça e de nosso coração. Quando esta questão parte de dentro, e surge como uma interrogação que exige uma resposta sincera e genuína, então todas as simplicidades caem, e mais nenhuma outra pessoa pode responder por nós. Não... Para que isto fosse possível, elas teriam que ter vivido nossas vidas, ter dado a todos os acontecimentos - pequenos ou grandes - o peso que demos, terem feitos as escolhas que fizemos e pelos motivos que fizemos, terem pensado o que pensamos e sentido o que sentimos, e muito mais coisas além destas e, no fim, perceberíamos que, qualquer um que tenha feito tudo o que fizemos, tal qual fizemos, não seria outra pessoa senão nós mesmos. Mas esta é a parte simples da questão, que sucinta outras questões, de menor importância. Não que não sejam importantes, até são, filosoficamente falando, mas elas ocupam um espaço menor, e não respondem à questão principal, a questão que cedo ou tarde fazemos a nós mesmos: Quem sou eu?

Ao responder esta pergunta, tive que fazer uma retrospectiva pessoal muito grande. Qualquer um que tenha a ambição de responder a esta questão fará a mesma coisa. Assim sendo, vasculhei minha alma de cima a baixo, de dentro pra fora e de fora pra dentro. Revolvi tudo em meu universo interior, e cheguei a uma conclusão estranha: eu sou um herói.

Muitos podem até achar esta afirmação um tanto cômica, e podem dar risadas inclusive. Não os culpo, eu mesmo tenho esta vontade, quando lembro da resposta, sem considerar o modo como cheguei a ela. O trajeto, percebam, é o fundamental da questão resolvida. Eu sou um herói, descobri. Mas como descobri, os motivos que me levam a esta conclusão é que são o âmago da questão.

Sou um herói, não por me considerar como tal, nem por acreditar no que porventura um ou outro tenha me dito. Não! Sou um herói, pois tenho um coração de herói, tenho os propósitos de um herói, tenho os desejos de um herói, e me comporto de maneira condizente com isso. Sou um herói não por uma afirmativa pessoal, movida pelo ego e pela vaidade, mas antes por me descobrir deste jeito, sendo quem sou e o que sou, do jeito que sou, pelos motivos que sou. Mas para que isto fique bem entendido, uma outra questão precisa ser respondida: o que é um herói?

Segundo o dicionário que disponho agora, um herói é:
s.m.
Nome dado pelos gregos aos grandes homens divinizados. / Aquele que se distingue por seu valor ou por suas ações extraordinárias, principalmente por feitos brilhantes durante a guerra. / Principal personagem de uma obra literária (poema, romance, peça de teatro etc.) ou cinematográfica. / Principal personagem de uma aventura, de um acontecimento.

De que este conceito nos servirá? Resposta simples: ele é o princípio, o início da compreensão que eu mesmo tive que buscar. Logicamente que agora este processo está sendo invertido, pois busquei este conceito depois de chegar à conclusão, mas não queremos dificultar as coisas, não é mesmo? Pois bem...

Antropologicamente falando, um ser humano é o resultado da somatória de todas as influencias existentes ao seu redor que, absorvidas e processadas, desde a mais tenra idade, formam a sua Identidade Cultural. Por exemplo: um chinês só é chinês se for criado inserido no seio da cultura chinesa. Fatores genéticos, diante da grandeza do cultural, são pouco influentes. Ouso fazer esta afirmação, pois é de conhecimento de muitos que, se um indígena sul-americano for (outro exemplo), assim que nascido, for criado e educado até sua idade adulta, em meio a japoneses (mais um exemplo), experimentando e vivendo a cultura japonesa, mesmo que por fora seja um índio, por dentro ele será japonês. Culturalmente este “índio” será um japonês. Um outro bom exemplo é o caso dos meninos-lobos, crianças que, desde o nascimento, foram criados por lobos, e se tornaram como tais, vivendo como tais, até o momento em que tiveram contato com a sociedade - e cultura - humana.

Percebi, após uma serie de eventos que me levaram a questionar a força e a validade de meus valores, diante do que hoje é culturalmente avaliado, aceito e exercido pela maioria, que pertenço a uma geração totalmente única. Sou, assim como muitos, a primeira geração que é marcada por este tipo de característica. Meu pai, quando teve a idade que tive, não viveu o que eu vivi, nem como eu vivi, mas foi através dele que eu herdei estas características. Meu avô, pai do meu pai, sequer sonhou com o legado que seu filho, meu pai, me deixou. Mas este legado existe, e se manifesta em mim. Não é uma exclusividade minha. De fato, ela existe em muitos que tiveram uma infância como a minha, que leram o que li, que sonharam o que sonhei ou como sonhei, e que se espelharam em quem me espelhei.

Vamos contextualizar melhor: quando garoto, "aprendi" com meu pai a gostar de Histórias em Quadrinhos. Sou fã, até hoje, de HQs, além é claro de Mangás (histórias em quadrinhos de formato oriental). Antes deles, porém, tive contato com os tão famosos Contos de Fadas. Na televisão, eu assistia a vários desenhos animados, todos de super-heróis. Desenhos como "A Liga da Justiça", "Thundercats", "Silverhawks", "Os Herculóides", "Space-Gost" e tantos outros foram o molde de alguns princípios morais que tenho hoje. Princípios como coragem, honestidade, integridade, altruísmo, responsabilidade, justiça, bondade, coleguismo, companheirismo e muitos outros.

Mas meus heróis não foram apenas estes. Existia um outro "universo", e era o da busca espiritual. Não sou o tipo de homem que jura sobre a capa de um único livro. Na verdade, não juro sobre livro algum, mas leio muito. No que tange a espiritualidade, tive contato com várias culturas diferentes, várias religiões diferentes, e de cada uma delas tive a sorte de absorver valores inestimáveis, tanto que me espelhei em "herois" genuínos. Personagens como Jesus, Buda, Lao-Tse, Krishna e tantos outros indivíduos que foram a origem de muitas religiões, e cuja própria existência é quase mítica. Cada um deles é, para mim - e não só para mim -, um heroi.

Muitos outros personagens históricos, menos fantásticos e mais "reais" também me serviram como espelho. Dalai Lama, São Francisco de Assis, Chico Xavier, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, Malcon X e muitos outros foram grandes exemplos do que podemos considerar como heróis verdadeiros. Gente que lutou por um ideal, e que, não raras vezes, morreram por ele, em nome dele, ou o exercendo. Outros nomes, posteriormente, se somaram a estes. "Celebridades" como o nosso atual Dalai Lama, ou de guerreiros antigos como Myiamoto Musashi, ou de monges honoráveis como o Bodhidharma, cada um destes surge como uma orientação que ambicionei seguir. Exemplos de força-de-vontade, de determinação, de genialidade, de perseverança... Desejei profundamente ser como eles, e assimilei, da melhor forma possível, suas melhores qualidades e virtudes.

Após me tornar um "adulto", os indivíduos caíram para segundo plano, e ideais pularam para o primeiro. Ideais como o
Bushido, o caminho do guerreiro, o famoso código de conduta dos samurais é um bom exemplo. Neste código, que não foi transmitido a mim, mas que por minha pessoa foi buscado por uma questão de identificação, trouxe-me noções e ideais como honra, verdade, dever, lealdade, força de caráter... Assim, aos poucos, fui me aproximando mais e mais dos heróis que tanto me impressionaram e cujos passos desejei seguir. Heróis verdadeiros e Heróis mitológicos. Todos, de igual forma, fazem parte do que sou hoje.

Percebo que, a cada novo dia, novos heróis se somam aos antigos. Meus heróis. Cada atitude de nobreza, cada atitude de honra, cada exemplo de lealdade, cada manifestação de integridade que me impressiona. Mas certamente que existem atenuantes e agravantes, e o que realmente me impressiona não é a ação em si, mas quando, como e onde acontece. Um valentão fortão e armado, enfrentando um grupo de fracotes desarmados não é, nem de longe, um sinal de coragem. Mas um fracote enfrentando, sozinho e desarmado, um grupo de valentões fortões, em defesa de algo justo, é um sinal de coragem, de integridade, de nobreza, de justiça e de muitos outros valores heróicos, muito embora, para as demais pessoas, seja uma demonstração de estupidez. Seria tão mais fácil enfiar o rabo entre as pernas e sofrer calado, como os demais...

Esta é, então, a síntese do que é ser herói: fazer, em nome das virtudes, o que mais ninguém está disposto a fazer. Defender, mesmo que com grande prejuízo de si mesmo, aquilo que é justo e verdadeiro. Lutar, mesmo que sozinho, e/ou em grande desvantagem, para promover e preservar os direitos mais sagrados que todo ser humano deve ter, e que deve defender. Direitos estes que já foram bandeiras, que já foram ideais, e que hoje estão quase esquecidos. Direitos como Igualdade... Liberdade... Fraternidade... Direitos como Justiça e Respeito. Direitos humanos...

Um herói é, muitas vezes, nos dias de hoje, um tolo. É alguém que coloca a segurança e o bem-estar dos outros acima de seu próprio. É alguém que corre para ajudar quando todos os demais correm para se esconder. Um herói acredita e vive em função de princípios e ideais que são, quase sempre, motivo de chacota para os que não os possuem, ou que neles não acreditam. Um herói resiste e persiste quando todos os demais desistem. Mesmo com dúvidas, mesmo fraco, mesmo ferido, ele ainda luta, pois sabe que o bem de muitos depende de seus esforços, e que se ele cair, podem até surgirem outros, mas ainda assim ele fará grande falta.

Lutar sem recompensa. Batalhar sem reconhecimento. Liderar em anonimato. Desafiar dando seu nome para preservar o anonimato de muitos. Desconhecer o orgulho que vem da vaidade, mas cultivar o orgulho que vem da integridade. Ser orgulhoso por ser nobre. Ser e fazer o que é difícil ser e fazer. Sacrificar-se...

Sou um herói pois os valores de um legítimo herói estão em mim. A egrégora dos heróis habita em mim. Assim como um samurai, assim como um cavaleiro, sou o fruto de meus antepassados. Sou o filho de um mundo espetacular, mas que é frágil e precisa ser defendido contra as forças do mal. Como um herói, procuro ignorar minhas fragilidades e superar minhas deficiências, mas defendo até as ultimas forças - e mesmo indo além delas - a justiça.

Não sou o único, isso eu sei. Tenho antecessores e, com alguma sorte, terei sucessores. Os heróis estão espalhados pelo mundo todo, mas são poucos. Há muito a ser feito, e poucos são os que fazem. Menor ainda é o número dos que continuam a fazer, após inúmeras decepções, angustias, derrotas... Estes poucos sofrem como qualquer pessoa, e até mais. Possuem muito mais limitações, pois seus princípios lhes impedem de fazer o que qualquer outro, que não os possuem, poderia fazer. Mas é justamente isto o que constrói um herói: fazer sacrifícios constantes em benefício de muitos.

Quando observo o mundo, do jeito que está. Quando leio um jornal ou assisto um programa televisivo e vejo reportagens sobre violência, corrupção, intolerância, discriminação, acidentes causados por imprudência e irresponsabilidade... percebo com grande tristeza que o mundo precisa de mais heróis. Precisamos de mais heróis verdadeiros. Precisamos de mais Cristos, de mais Budas, de mais Krishnas, de mais Mahatmas Gandis, de mais Malcons Xs... O mundo precisa de heróis. Mas quem se disponibilizará a ser um deles?

O maior desafio de um herói não é lutar, mas continuar a lutar depois de algum tempo. Chega uma hora em que ele mesmo terá que decidir se ele continua a lutar – e consequentemente continua a sofrer como um lutador solitário –, ou se ele para de lutar e começa a viver sua própria vida, já há muito esquecida e abandonada.

A resposta para esta pergunta virá com o tempo... Mas será que teremos tempo? Por enquanto temos, mas se continuar como está, um dia os heróis acabarão e então, eu pergunto: o que será do mundo sem heróis?

terça-feira, 21 de abril de 2009

A SUA imortalidade em Harry Potter.


Muitos hão de estranhar o título deste artigo. Muitos o lerão pela curiosidade que porventura ele cause. Muitos o deixarão de ler por não acreditarem que há relação entre a sua imortalidade e a obra Harry Potter, da autora inglesa J. K. Rowling. Todavia, fiz a relação mais simples possível: juntei a maneira que aprendi de se tornar imortal e a metáfora implícita na obra, que tem a mesma ideia! Não tenho minha noção de imortalidade retirada da obra, mas percebi um detalhe curioso: intencionalmente, ou não, Rowling tem o mesmo pensamento sobre a imortalidade de uma pessoa. Não... não é a Pedra Filosofal.
Em verdade, só se pode entender a mensagem dessa imortalidade a partir do sexto livro, apesar dela estar implícita desde o segundo. A saber, sete são os livros da série.
Existem pessoas imortais? Não?? Então o que dizer, apenas para citar alguns exemplos, de William Shakespeare? Leonardo Da Vinci? Lúcio Sêneca? Ludwig Beethoven? Luther King? ... Estão mortos? Estar vivo, é o mesmo que viver? E viver, é estar vivo? Morrer é estar morto? Estar morto seria o mesmo que morrer? Essas perguntas por elas mesmas, se levarem o leitor a reflexão, já valeriam o artigo, mas já que me propus a relacionar a imortalidade e a obra Harry Potter, continuarei.
Creio que independente das respostas que o leitor possa chegar às perguntas acima, acredito que estar vivo não depende de sua matéria, depende de seu espírito. Não se ouve tanto falar por aí nos idosos com “espírito jovem”? Mais jovem do que os de muitos adolescentes por aí? Sim! Acredito na imortalidade do espírito. Acredito na jovialidade do senil! Acredito na velhice adolescente!
Pensemos em uma árvore. Uma árvore robusta, com boa sombra, com bons frutos. Imaginemos então que a árvore, por N motivos, tivesse que ser derrubada. Ela deixaria de existir? Os frutos colhidos antes da derrubada seriam menos saborosos por causa disso? A lembrança da sombra que ela proporcionava desapareceria, como num passe de mágica, das mentes dos que dela aproveitaram? Talvez até mesmo a folha de papel que a utilizou como matéria prima, ela não existe? Não veio da árvore? A árvore, em verdade, não está na folha de papel, no sabor momentâneo do fruto, no prazer da lembrança do sabor do fruto, na lembrança do frescor da sombra? E sempre que encontrar uma nova sombra, aquilo não o lembrará da antiga árvore? Percebam: A ÁRVORE NÃO MORREU! A árvore pode não viver, mas, indubitavelmente está viva! E estar vivo, para sempre, é ser imortal.
Ok. Um dia podem esquecer a pobre árvore. Mas essa foi apenas outra metáfora. Voltemos aos primeiros exemplos. Shakespeare, Da Vinci, Sêneca, Beethoven, Luther King ... alguém se atreve a dizer que serão esquecidos algum dia? Décadas, séculos e milênios separam esses homens de nós mesmos. E muitos lembram deles. São as árvores. Suas vidas continuam a desafiar o tempo, pois são muitos os que ainda saboreiam os seus frutos, a sombra que proporcionaram e ainda proporcionam e hão de proporcionar pros que ainda chegarão.
“Não tente me enganar... e onde está Harry Potter nessa história?”
HORCRUXES.
Nos livros finais da série, o protagonista descobre que para se destruir o Lord das Trevas (Voldemort), deverá, antes, destruir todos os seus Horcruxes. Segundo a história, “horcrux” seria uma elevada técnica de magia cujo bruxo que conseguisse realizar o feitiço, poderia dividir sua alma em dois pedaços: um deles permaneceria no corpo, enquanto que o outro poderia ser colocado em qualquer objeto ou coisa. Alto nível de magia. Após o sucesso do feitiço, o bruxo teria sua alma dividida em duas, então nada mais óbvio que para se “matar” o bruxo, tivesse que se destruir as DUAS partes de sua alma, senão ele continuaria vivo. Acontece que Voldemort criou, não um, mas sete horcruxes. Eis o problema: para se matar definitivamente Lord Voldemort, teria que se destruir todas as partes (horcruxes) de sua alma, espalhadas por seis objetos diferentes. A última parte estaria nele próprio, já que nenhum humano poderia viver sem uma alma (ou parte dela).
Essa é a explicação da imortalidade em Harry Potter. Se quiser saber o final da história, Harry Potter é uma ótima dica de leitura!
E porque eu disse que seria uma metáfora para nós, buscarmos a nossa imortalidade? Simples: também devemos “criar feitiços”. Somos mágicos. Somos bruxos. Somos humanos. Devemos criar horcruxes. Devemos dividir nossas almas, sempre no pensamento de que em quantos pedaços mais pudermos dividi-la, mais difícil será nos matar, até chegarmos ao ponto de nos tornarmos imortais!
Os primeiros exemplos são imortais porque produziram incontáveis horcruxes. Podem, com o tempo, destruírem um ou outro, mas nunca destruirão todos. Citei exemplos de “bruxos bons”, mas os “bruxos maus” também criam seus horcruxes. Muitos são os maus exemplos que nunca serão, e nem deveriam ser, esquecidos.
Acontece que todos podem criar horcruxes. Dividam suas almas em seus filhos, em seus netos, em suas obras, em seus sonhos, em suas poesias (se você é poeta), em suas músicas (se você é músico), em seus livros (se é escritor), em seus alunos (se é professor)... Isso o fará tão grandioso que fazer você deixar de existir será uma tarefa impossível. Terão de destruir todas as partes de sua alma, distribuídas em todos os horcruxes que você criou, e enquanto restar ao menos um deles, você ainda existirá. Eis a verdadeira imortalidade.

terça-feira, 10 de março de 2009

QUANDO ESQUECER É A MELHOR COISA A FAZER.


-->
Quero escrever desta vez sobre um tema que é demais controverso: o passado. Bem é verdade que se não resolvido ele atormenta. É bem possível que por conhecê-lo nos orientemos melhor em certos momentos da vida, quando nos é cobrada uma escolha. Verdade também é, contudo, que ele, para muita coisa, é melhor ser esquecido.
Sou historiador. Tenho pouco mais de vinte anos de experiência nesta maravilhosa e irremediável aventura que é a vida. Sei que é pouco. Ainda assim, atreverei-me a refletir sobre tão complicada questão: é melhor esquecer do que lembrar certas coisas?
Todos nós sabemos, a história como disciplina existe para uma finalidade. Profissionais chamados historiadores recolhem fatos sobre o passado, os encadeiam numa sequência lógica, chamada narrativa, e oferecem o resultado de seu trabalho ao grande público – e recebem para isto. Há oferta, pois existe uma demanda. Esta se assenta na necessidade que o ser humano possui de questionar. Através das respostas a tais questões, os homens orientam suas vidas. E o homem sempre se questionou acerca de seu passado. Enquanto individuo e espécie.
Todavia, a resposta dada ao grande público pelos historiados é sempre contaminada. Inexoravelmente o historiador trabalha para alguém, alguma causa ou bandeira. Portanto, sempre que você lê ou ouve uma história, ela pode ter sido manipulada, deturpada ou falseada, e isto é feito para atender a certo fim. Nem todos, porém, sabem disto. A grande maioria, aliás, desconhece esta regra.
Últimamente, por exemplo, nossos livros didáticos orientam-se, quase todos, sob a perspectiva marxista para explicar a história – leia-se a realidade. Esta é somente uma maneira de enxergar o mundo, mas para os leitores de livros didáticos de história está se tornando a maneira de enxergar o mundo. Nem é preciso comentar o quão perigoso isto é. Afinal, já diz o ditado: temei ao homem que jura sobre um livro só.
Certas coisas estão acontecendo em nosso país, além desta, que me preocupam. Uma delas é a famigerada questão sobre as cotas raciais. No senso comum, na memória coletiva e no imaginário do povo brasileiro, raça é algo engraçado. Afinal, somos a união de todas elas. O tipo ideal brasileiro não é ariano, nem o Anglo-Saxão-branco-protestante. Fomos fundados enquanto nação sob o mito da democracia racial. Por mais errôneo que ele possa ser, admite-mos, é um jeito saudável de preparar o país para o futuro. Todos iguais e ponto final.
Nesse momento exponho outra faceta da história: ela serve ao presente. Nesse sentido, muitas vezes é melhor ser esquecida em nome da integridade e paz, isso para que se evite o conflito, a ruptura e a desunião.
Calma!!! Não proponho esquecer nosso passado de escravidão - a página mais suja de nossa história. Ergo-me, no entanto, enquanto historiador e cidadão brasileiro, para protestar quando este passado é usado – e abusado – para fins incorretos e perigosos no presente. Sou contra as cotas raciais, e direi meus motivos.
Sim, certamente o nosso passado de escravidão contribuiu para as desigualdades sociais que afligem e acometem nosso país. Isto tem que ser reparado. É justo que seja. Mas existem pobres que não seriam enquadrados como negros e nem como índios. O que a nação lhes ofereceria? Ela tem que ser equânime para todos.
Caso passe a vigorá o sistema de cotas raciais, atestará que os negros e índios são menos capazes do que os demais brasileiros, e isto por critérios raciais, o que é um absurdo.
Por último, corremos o risco de dividir o país – dito o mais democrático do mundo quando a questão é raça – em brancos, negros, índios, cor de rosa... Isso em um país cujo marco fundador é miscigenação. Iremos, desse modo, desmentir o mentido que tem nos guiado até hoje – e que é uma das maiores belezas deste país. Da união entre todas as raças demos origem a uma raça indefinível, a não ser por sua beleza.
Existe uma saída para tudo isto. Creio que há, sim. As cotas para alunos de escola pública. Veja só: os menos favorecidos teriam mais oportunidade – inclusive os negros e índios – e os critérios para considerá-los menos capazes seria o econômico. Em nosso país, por ironia, ser pobre não é vergonha, é até orgulho. Nesse sentido, o critério cairia “como uma luva” para nossa cultura.
Por último, há o fato de que este critério é a um longo tempo já usado por diversas instituições de ensino, sobretudo as federais. Nem todos nós, no entanto, sabemos disto. O motivo: ele não dividiu o país. Portanto, é saudável. Quanto ao critério racial, tenho muito medo. Mas se a maioria do país quer, é pagar para ver.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O melhor critério é ter o seu próprio critério.

O italiano Del Vecchio já dizia que “O Estado não tem vontade própria e sim a de seus governantes”. É por tal razão que Cesare Battisti vai ficar! Não importa se ele é um criminoso. Por motivos políticos, e na condição de refugiado político, ele fica! Sentenciamos dessa forma que a Itália é uma Ditadura! Tudo bem, Cuba não o é. Nem a Venezuela. Basta reorientar nossos critérios, ter um pouco mais de pensamento crítico, ser conscientizado, melhor olhar e, aí sim, a realidade deixará de ser o que é e assumirá forma mais condizente ao nosso discurso. Já dizia o velho Raul Seixas: “Para que ler jornal se eu também sei mentir”. Sejamos honestos: os nossos governantes estão falseando a realidade! A fórmula para tal proeza descrevi acima.

Se ao menos fossem apenas os nossos governantes a falsearem a realidade tudo seria menos mau, afinal somente os fracos confiam em tal espécie. Porém os intelectuais também entraram no ritmo, e é sempre mais fácil confiar em intelectuais, pois parecem possuir certo conhecimento esotérico, que somente eles, os iniciados, dominam.

De todo modo eu me previno dessa raça também. Antes de ter um guru procuro eu ser guru de mim mesmo. Se assim não o fosse poderia cair no ridículo. Quantas vezes não discuti sobre temas ou pensadores aos quais não dominava, defendendo-os ou acusando-os. Este erro não cometo mais. É lamentável, mas este é um erro comum em círculos acadêmicos. Conta-se que certa vez um jogador de futebol caiu em campo. Prontamente um médico foi verificar o ocorrido e sentenciou o óbito do atleta. O massagista então foi tirar o corpo de campo, e qual foi a supresa quando o defunto falou. Perguntou o que havia ocorrido e foi, então, que o massagista contou-lhe a boa nova, comunicando-lhe da sua morte. Incrédulo, o jogador retrucou, afirmando estar vivo. Foi nesse instante que o massagista, em tom de severidade, falou:

- Tu estás morto homem, ou queres por acaso saber mais do que o médico!

Moral da história: jamais confie em autoridades. É bem verdade, nós devemos possuir referências. Mas referência é referência e autoridade é autoridade. Minha maior referência ensinou-me antes de tudo a ser cético e a buscar sempre o meu próprio caminho a seguir caminhos alheios.

Outro dia, em uma fila, fui xingado por criticar o marxismo. Nada de novo para mim, a não ser pelo xingamento. Outrora já fora xingado de conservador, burro, acomodado e até de estúpido. Todas essas vezes, entretanto, foi xingado por pessoas que me conheciam e que, no calor da discussão, tachavam-me de algo pretensamente ofensivo e contrário ao bom senso e a sabedoria cósmica. Eu parecia ser para eles extremamente mau e contrário à justiça. Para ser justo e bom, todavia, eu entendo não ser necessário aderir à ideologia qualquer. Embora Hugo Chaves diga que Jesus Cristo era comunista. Tudo bem, ele deve ter lá os seus critérios para chegar a tal conclusão (critérios do qual não fazem parte nem a racionalidade nem a obediência a certos cânones historiográficos, como o de não cair na tentação de ser anacrônico). O fato, contudo, é que por criticar o marxismo fui tachado de “filhinho de papai”, por um sujeito que sequer me conhecia! Ele poderia pensar (o que seria contraditório, pois quem adere a uma ideologia em regra não pensa) que eu poderia ser um pensador pouco ortodoxo para o seu meio, alguém extremamente conservador, sem estudo talvez (por não ter alcançado ainda a verdade inexorável do marxismo), enfim, mas não, ele pensou que eu era um “filhinho de papai”. Sabem que critério ele utilizou para chegar a tal conclusão? O mesmo critério que Tarso Genro e Lulla usaram para decidir soberanamente (faça-me rir) o destino de Cesare Battisti: o critério ideológico. É simples, para avaliar situações é só procurar o guru. É pelo guru que nós avaliamos que Cuba não é ditadura, logo dois pugilistas foram extraditados para lá (um grande favor do Brasil, que os mandou para o paraíso, do qual de forma inexplicável eles tentavam fugir) e que a Itália é, sim, uma ditadura, logo nada mais justo do que oferecer asilo político a tão doce e pobre criatura que é o Cesare Battisti. Criminoso sim, mas por uma boa causa. Gente, os fins justificam os meios. Ele lutava pelo paraíso, digo, comunismo.

Nada melhor do que ter um guru – neste caso, pretensamente o marxismo, inspirado nas idéias de Karl Marx, que afirmou certa vez não ser marxista... – pois assim não é necessário preocupar-se com princípios, consciência, ética e nem justiça. Você quer uma vida fácil? Confie em uma pessoa, livro ou verdade qualquer. Daí em diante todos os seus erros estarão justificados, uma vez que você terá perdido a individualidade – isso para não dizer que eu não falei dos bois.

Ps: Peço desculpa aos leitores que se sintam, de forma muito justa, inconformados com o fato de que neste artigo tenham sido levantadas questões que deveriam ter permanecido nos livros de história a pelo menos uns 50 anos atrás, esquecidos antes da década de 1960. É que as circunstâncias me impeliram a ação.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

DO SER FELIZ NA MORTE



► Do ser feliz na morte.


“Aquele que achas que perdeste apenas
foi antes de ti. Por que chorar aquele que
partiu antes se vais seguir o mesmo caminho?”

(Lúcio Anneo Sêneca)

Havia pensado em como começar este texto. Após refletir um pouco, pensei em começar alertando ao leitor sobre a brevidade da vida. Lembra de tua infância? Parece ou não que foi ontem? Se levarmos em conta que o universo tem alguns bilhões de anos, que o Homo sapiens sapiens tem uma mínima fatia deste tempo (cem mil anos aproximadamente na Terra) e que nós estamos em nossos vinte, trinta, quarenta, cinqüenta anos de vida – e que teremos algumas décadas ainda pela frente – percebermos o quão ínfima é a parte do tempo que nos diz respeito.
Vi em uma pesquisa que passamos 1/3 de nossas vidas simplesmente dormindo. Ensaiando para a morte. Um terço de nossas vidas, então, é perdido. Retiremos também todas as horas que passamos doentes, cansados, irritados, de mau humor, tristes, entediados, sofrendo pelas decepções amorosas, por perdas por causa da morte... Retiremos todos esses momentos. Podemos dizer que 2/3 talvez de nossa vida já estejam de fora dessa contagem, não? Sobrou-nos 1/3. Um terço nos resta para sermos felizes. Neste 1/3 de vida devemos pôr nossas melhores lembranças, nossas mais fortes amizades, nossos beijos mais demorados, nossas juras de amor eterno, o nascimento de nossos filhos, as realizações, a lembrança de nossa infância, a diversão, as histórias, os filmes inesquecíveis, a melodia da música preferida, a composição da poesia predileta, os olhos de quem se ama... Tanta coisa! Tão pouco tempo.
Ouvi de alguém feliz que “ser feliz é uma decisão pessoal”. Seja quem fores, não importa onde vives, nem quantos anos tens: viver feliz está ao alcance de tuas mãos. Se achas 1/3 da vida insuficiente para ser feliz, porque não ser feliz em tempo integral? É difícil, mas quem falou que seria fácil?
Acredito que o azimute, a meta principal dos homens na Terra, quer eles saibam ou não, é a busca pela Sabedoria. Com ela ao nosso lado nos momentos mais árduos, pode apostar que recuperamos 1/3 de nossa vida que estava perdido pelos desgostos. Assim, já seremos felizes por 2/3 de nossa vida. De cada momento ruim que aconteceu, serão retirados bons aprendizados. Cresceremos. Saberemos como agir da próxima vez; saberemos falar a coisa certa nas horas mais difíceis. Se conseguirmos extrair tudo que o momento pôde dar. Toda a sabedoria que poderia ser apreendida. Mas como fazer para recuperar o último terço da vida? Como ser feliz 3/3? Deveríamos deixar de dormir? Impossível.
Li em algum lugar que “dormir é ensaiar para a morte”. Morremos então, todos os dias. Mas o bonito é que renascemos poucas horas depois, como deuses. Renascemos com a chance de sermos melhores. Algum dia essa chance nos será tirada, claro. Como sempre foi tirada de todos, em todos os momentos da história. Mas não sabemos ainda se essa chance nos será novamente dada para começarmos de onde paramos. Acredito que sim. Pois nessa corrida, não acho que importe a posição a qual se chega, mas em que condições cruzarás a linha de chegada. Uma linha que todos devem cruzar. Uns, como eu disse, chegarão primeiro, outros demorarão um pouco mais, mas chegarão, pois é nosso objetivo comum. Tal como na vida, todos têm um ponto de partida e uma linha de chegada em comum. Entretanto, o percurso, tu tens a chance de escolher. Alguns serão mais longos ou dolorosos. Outros mais rápidos ou mais fáceis. Mas todos hão de chegar.
Quando é tirada de um dos nossos, temporariamente, a chance de acordar, costumamos sofrer bastante. Não acredito que erramos ao sofrer naquele momento. É mais que natural que soframos a perda de um dos nossos. Contudo, se quiseres ser feliz em tempo integral, se buscas a sabedoria como meta de vida, não podes voltar atrás na decisão. Estarás abrindo mão do tempo de felicidade. Mas se ainda assim queres chorar copiosamente ao longo dos meses e anos, devolve então o 1/3 dos longos sofrimentos ao tempo. Não tens o direito de conquistar a sabedoria, ainda.
A morte não é algo fácil, mas deveria ser, já que tanto foram os ensaios para este ato final. Porque não sair do espetáculo aplaudido de pé? Porque deixar alguém nos arrastar do palco, sendo que nossa atuação já chegou ao fim? Não há beleza nem sabedoria nisso. Que choremos pelos nossos! Choremos pelo velório de nosso pai. Choremos pela falta de brilho nos olhos de nossa mãe. Choremos pelo melhor amigo, que, aliás, é como estar presente em nosso próprio enterro. Choremos pelos nossos porque o momento nos pede. Mas só! Será que seria melhor que nunca tivessem nascido para talvez não sofrermos tanto? Devolves então boa parte de tua vida feliz ao tempo. Afinal, foram eles responsáveis por tais momentos, não?
A lógica é simples: se queres ser feliz, ama a vida. Ama os momentos felizes e ama os momentos tristes, pois eles também tiveram importância na edificação de tua fortaleza chamada sabedoria. Nem todos os tijolos de tua fortaleza serão recebidos, alguns devem ser conquistados. Seja o pedreiro, engenheiro, arquiteto e decorador de tua própria obra. E se amarmos os momentos felizes e tristes, não há muito espaço para a dor. Não havendo espaço para a dor, sobra espaço para se ser feliz. E quando atingires a felicidade plena, poderás sentir em teu peito a faixa que marca a linha de chegada. Meta concluída. A recompensa dos vencedores te aguarda.

Em homenagem a todos os meus que já se foram.