segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O melhor critério é ter o seu próprio critério.

O italiano Del Vecchio já dizia que “O Estado não tem vontade própria e sim a de seus governantes”. É por tal razão que Cesare Battisti vai ficar! Não importa se ele é um criminoso. Por motivos políticos, e na condição de refugiado político, ele fica! Sentenciamos dessa forma que a Itália é uma Ditadura! Tudo bem, Cuba não o é. Nem a Venezuela. Basta reorientar nossos critérios, ter um pouco mais de pensamento crítico, ser conscientizado, melhor olhar e, aí sim, a realidade deixará de ser o que é e assumirá forma mais condizente ao nosso discurso. Já dizia o velho Raul Seixas: “Para que ler jornal se eu também sei mentir”. Sejamos honestos: os nossos governantes estão falseando a realidade! A fórmula para tal proeza descrevi acima.

Se ao menos fossem apenas os nossos governantes a falsearem a realidade tudo seria menos mau, afinal somente os fracos confiam em tal espécie. Porém os intelectuais também entraram no ritmo, e é sempre mais fácil confiar em intelectuais, pois parecem possuir certo conhecimento esotérico, que somente eles, os iniciados, dominam.

De todo modo eu me previno dessa raça também. Antes de ter um guru procuro eu ser guru de mim mesmo. Se assim não o fosse poderia cair no ridículo. Quantas vezes não discuti sobre temas ou pensadores aos quais não dominava, defendendo-os ou acusando-os. Este erro não cometo mais. É lamentável, mas este é um erro comum em círculos acadêmicos. Conta-se que certa vez um jogador de futebol caiu em campo. Prontamente um médico foi verificar o ocorrido e sentenciou o óbito do atleta. O massagista então foi tirar o corpo de campo, e qual foi a supresa quando o defunto falou. Perguntou o que havia ocorrido e foi, então, que o massagista contou-lhe a boa nova, comunicando-lhe da sua morte. Incrédulo, o jogador retrucou, afirmando estar vivo. Foi nesse instante que o massagista, em tom de severidade, falou:

- Tu estás morto homem, ou queres por acaso saber mais do que o médico!

Moral da história: jamais confie em autoridades. É bem verdade, nós devemos possuir referências. Mas referência é referência e autoridade é autoridade. Minha maior referência ensinou-me antes de tudo a ser cético e a buscar sempre o meu próprio caminho a seguir caminhos alheios.

Outro dia, em uma fila, fui xingado por criticar o marxismo. Nada de novo para mim, a não ser pelo xingamento. Outrora já fora xingado de conservador, burro, acomodado e até de estúpido. Todas essas vezes, entretanto, foi xingado por pessoas que me conheciam e que, no calor da discussão, tachavam-me de algo pretensamente ofensivo e contrário ao bom senso e a sabedoria cósmica. Eu parecia ser para eles extremamente mau e contrário à justiça. Para ser justo e bom, todavia, eu entendo não ser necessário aderir à ideologia qualquer. Embora Hugo Chaves diga que Jesus Cristo era comunista. Tudo bem, ele deve ter lá os seus critérios para chegar a tal conclusão (critérios do qual não fazem parte nem a racionalidade nem a obediência a certos cânones historiográficos, como o de não cair na tentação de ser anacrônico). O fato, contudo, é que por criticar o marxismo fui tachado de “filhinho de papai”, por um sujeito que sequer me conhecia! Ele poderia pensar (o que seria contraditório, pois quem adere a uma ideologia em regra não pensa) que eu poderia ser um pensador pouco ortodoxo para o seu meio, alguém extremamente conservador, sem estudo talvez (por não ter alcançado ainda a verdade inexorável do marxismo), enfim, mas não, ele pensou que eu era um “filhinho de papai”. Sabem que critério ele utilizou para chegar a tal conclusão? O mesmo critério que Tarso Genro e Lulla usaram para decidir soberanamente (faça-me rir) o destino de Cesare Battisti: o critério ideológico. É simples, para avaliar situações é só procurar o guru. É pelo guru que nós avaliamos que Cuba não é ditadura, logo dois pugilistas foram extraditados para lá (um grande favor do Brasil, que os mandou para o paraíso, do qual de forma inexplicável eles tentavam fugir) e que a Itália é, sim, uma ditadura, logo nada mais justo do que oferecer asilo político a tão doce e pobre criatura que é o Cesare Battisti. Criminoso sim, mas por uma boa causa. Gente, os fins justificam os meios. Ele lutava pelo paraíso, digo, comunismo.

Nada melhor do que ter um guru – neste caso, pretensamente o marxismo, inspirado nas idéias de Karl Marx, que afirmou certa vez não ser marxista... – pois assim não é necessário preocupar-se com princípios, consciência, ética e nem justiça. Você quer uma vida fácil? Confie em uma pessoa, livro ou verdade qualquer. Daí em diante todos os seus erros estarão justificados, uma vez que você terá perdido a individualidade – isso para não dizer que eu não falei dos bois.

Ps: Peço desculpa aos leitores que se sintam, de forma muito justa, inconformados com o fato de que neste artigo tenham sido levantadas questões que deveriam ter permanecido nos livros de história a pelo menos uns 50 anos atrás, esquecidos antes da década de 1960. É que as circunstâncias me impeliram a ação.