domingo, 27 de dezembro de 2009

A HORA DO CONTRADITÓRIO

Considerações iniciais

Longe de querer falsear a realidade ou dizer-lhes coisas tortas sobre os acontecimentos, deixem-me tecer considerações sobre o momento vivido pela América Latina e, também, pelo Brasil.

Em recente palestra que assisti, ministrada por um membro nacional do Partido dos Trabalhadores (secretário de relações exteriores), pude perceber, não nas entrelinhas de sua fala, mas no que nela foi afirmado de fato, que a América Latina caminha para o socialismo. Lembro ao leitor, que este sistema de governo e de ideias foi abominado e esquecido pelo Leste europeu. Parece, então, que o que está em curso em nossa casa é nada mais nada menos do que a tentativa de reavivar um fantasma.

Para o discurso esquerdista, a crise financeira atual representa um golpe fatal no capitalismo, abrindo espaço para o socialismo, entendido como um regime econômico, político, militar e cultural. A crise tem como epicentro o centro mundial do atual regime econômico, político, militar e cultural, isto é, os Estados Unidos, e o seu capitalismo imperialista. Tal fato significa a perda de poder do vilão norte-americano em todas essas esferas. Assim, a ordem mundial fundada no pós Segunda Guerra e, mais precisamente, a partir da derrocada da União Soviética está em xeque. Dois caminhos são possíveis nesse cenário: o acordo ou guerra. Para as esquerdas latino-americanas, a guerra declarada é um mau negócio, pois a tecnologia e o arsenal militar dos Estados Unidos é o mais poderoso do mundo. Não obstante, um de seus principais braços são as FARC, grupo paramilitar que atua no continente com propósitos revolucionários, e elas próprias armam-se até os dentes, ficando a espreita dos acontecimentos. Note-se que o principal acordo entre as principais vertentes das esquerdas latino-americanas é o Foro de São Paulo, organização criada após o fim do comunismo na Europa, como forma de ressuscitá-lo na América Latina. Fazem parte desta organização tanto o PT quanto as FARC! Apesar disto, encarando a realidade, resta às esquerdas a luta pelo poder cultural, político e econômico, algo que o Foro de São Paulo também prevê e fomenta, estabelecendo diretrizes.
O plano cultural

No plano cultural, a “criminalização” dos movimentos sociais, entre eles o MST e a própria FARC, é alvo de denúncia das esquerdas, que reduzem a realidade a uma forma maniqueísta em que quem é contra esses grupos é contra os pobres e quem é a favor deles é favorável ao bem-estar social, logo, bom (cria-se, portanto, um inimigo-comum homogêneo, fortalecendo o discurso sectário das esquerdas) A menos que eu esteja louco, nunca passou pela minha cabeça achar que quem mata é bom, e que quem comete crimes é passível de ser louvado por tê-lo cometido em nome de uma suposta boa causa. Essa maneira de enxergar a realidade é nada mais nada menos do que ideológica, e, lembro ao leitor, a ideologia camufla a realidade, distorcendo-a. Na academia, apesar disto, pseudo-intelectuais e gente de toda ordem, moços ou velhos, com uma coca-cola na mão ou uma camiseta che-guevariana no corpo, aceitam e propagam o engodo de que o socialismo é um caminho, aliás, é o caminho para a América Latina, fazendo uma defesa veemente de Hugo Chaves, Evo Morales, Lula e companhia. Estão, sem saber ou sabendo, servindo a uma ordem que é contra o indivíduo e a liberdade, suas manifestações e implicações, ou seja, a defesa do indivíduo em relação ao totalitarismo das massas – ou “democracia das massas”. Neste aspecto, não me refiro à propriedade privada somente – baluarte da segurança econômica - , mas ao direito de livre pensar e agir, manifestações nocivas aos regimes autoritários e criminosos, que na realidade servem para instaurar uma realidade que beneficia a poucos, sustentando-os e enriquecendo-os, forjando uma ditadura dos privilegiados, leia-se da nomenclatura. Pensando bem, de certa forma ela já existe no Brasil, senão vejamos.

O plano político

No plano político, o projeto das esquerdas é dominar por completo o aparelho burocrático do Estado, mediante nomeações e acordos de camaradas. Tal projeto, quando implantado, e no Brasil ele já o foi, leva invariavelmente a corrupção e a inoperância dos meios de ação do Estado: saúde, educação, segurança e distribuição de energia, por exemplo. Faz parte do jogo político, por sua vez, as eleições, e por isso a inoperância do Estado é desculpada por três motivos principais: a “burocracia” (licenças ambientais e órgãos de fiscalização a caracterizam); a oposição (que joga contra os benefícios para o povo); e, finalmente, os projetos assistencialistas, afinal, é por meio deles que a população é induzida a pensar que os responsáveis pela sua miséria são na verdade os seus protetores e companheiros. Pense: após ser violentado por um sujeito de máscara você é auxiliado e ajudado por este mesmo sujeito, agora desmascarado, a receber ajuda e socorro, quem é o vilão? Não há dúvidas, a vítima é o povo. São justamente as políticas assistencialistas que servem como arma principal, ou como única arma, para que no plano político e cultural as reformas sociais sejam propagadas pela publicidade partidária com fins políticos, isto é, a tomada ou manutenção do poder. Ora, o patrimonialismo, verdadeira raiz dos principais problemas latino-americanos e, por extensão, brasileiros, continua a ser praticado, desta vez pelas esquerdas, como projeto delas próprias para se manterem na administração do Estado e dele usufruírem. Lembro ao leitor, a peculiaridade nisso é que os interesses partidários e pessoais para as esquerdas são tudo uma coisa só, pois à medida que o partido mantém-se no poder, dele podem fazer uso os seus membros e agregados.

O plano econômico

No que se refere ao plano econômico, cumpre anunciarmos a realidade sem vícios e noções arcaicas. Não se engane, o socialismo convive muito bem com a economia de mercado, mire-se no exemplo da China. Aliás, nunca houve uma economia 100% planificada, pois os países comunistas nunca a adotaram completamente, pelo simples fato de que seria inviável fazê-lo. Produção e preço são coisas determinadas pelo mercado, d’outra forma produzir e vender seriam atividades anárquicas, e nunca planejadas. Na economia de mercado livre, produção e preço são alto-reguláveis. Numa economia planificada, por sua vez, a produção é planejada pelo Estado, mas ela também atende as demandas do mercado, embora tais demandas sejam falsificadas. Não obstante, uma e outra forma de economia são de mercado. A primeira fabrica e vende produtos a um custo menor e variedade maior, pois a tecnologia e a concorrência são incentivadas. A segunda fabrica e vende produtos a um custo maior, e a oferta nem sempre é suprida, pois tecnologia e alto-regulamentacão não são incentivadas. No final da contas, alguém ganha como isso, pois do contrário seria inexplicável o surgimento de milionários russos ao fim do processo de derrocada da União Soviética. Como podem existir milionários numa economia planificada? Ora, em uma ou outra forma de mercado, capitalista ou “socialista”, objetiva-se o lucro, seja para os empresários – que reinvestem grande parte do capital adquirido, pois capital parado é capital perdido - ou para o Estado, partido e membros do partido. Portanto, não é necessário para que o socialismo seja implantado uma economia planificada, basta que setores da economia fiquem a cargo do Estado, o que está acontecendo em proporções consideráveis na Venezuela e também no Brasil, note-se o plano estatizante para o pré-sal. Eis o receio das esquerdas quando a questão são as privatizações, acusando-as em nome da soberania do país, ao passo que se desobrigam a tecer considerações sobre a soberania do consumidor. Falemos a verdade, qual serviço não melhorou no Brasil após as privatizações, livrando setores da economia de níveis estratosféricos de corrupção e inoperância? O contribuinte agradece não ter mais que arcar com o ônus do prejuízo.

Considerações finais
Em resumo, senhoras e senhores, no plano político e cultural, mas também no plano econômico e militar, o projeto socialista está em marcha na América Latina. E não se esqueça, não é a economia que rege todos os acontecimentos, pois o poder senhorio da nomenclatura socialista em nosso continente advém sobretudo das ordens política e cultural, o que já está bastante avançado.

O que dizer da “invenção do Brasil”, operação de marketing realizada pelos publicitários do Partido dos Trabalhadores com o intuito de preparar o terreno para “ações revolucionárias”, caso nas eleições O Partido saia derrotado e perca o poder – manifestação odiosa de domínio de uns sobre a maioria. Nessa tentativa de traduzir em novos significados o passado para o povo brasileiro, as conquistas anteriores a Lula são ofuscadas e desmentidas em virtude dos avanços extraordinários – faz-me rir – ocorridos em sua administração, ao passo que os erros ou crimes durante esses anos não são nem sequer mencionados ou são propositalmente desvirtuados – assim é que o mensalão foi uma tentativa de golpe orquestrado pelas elites, conceito abusado para definir os exploradores do povo (ainda bem que os burocratas do PT, Sarney, Collor e Calheiros não são elites, senão eu ficaria confuso, e minha idealização da verdade poder-se-ia ver constrangida ou desmentida pelos fatos e minha experiência!) Mas não, nesses anos em que eu, assim como o povo brasileiro, fui acostumado a não enxergar o óbvio, penso ter que continuar a manifestar meus sinceros agradecimentos a Lula, que controlou a inflação e pôs ordem fiscal ao nosso país (FHC), além de ser responsável direto por nós, nordestinos, comemos carne. Aliás, se o sul não o quiser, que tal dividir o Brasil? O Nordeste é uma região revolucionária por excelência mesmo. É certo que os burocratas do PT não controlarão todo o território nacional, mas o Nordeste, acostumado a exploração, eles poderão gozar – eu deixo!) Mas eu NÃO!!!

É meu caro, na contracorrente do pensamente, cuide de seu jardim, antes que nele você seja o próximo a servir como adubo ou a pastá-lo.

Viva a DEMOCRACIA de FATO!!!