domingo, 19 de setembro de 2010

Eureka, irmãos!

AVISO: Em virtude de uma desgostosa interjeição que sofri, estes dias, e em outros tantos dias ao longo de minha vida, por conta de diferenaças religiosas, irei fazer esta postagem. Por muitas vezes eu a evitei. Geralmente sou tolerante e parcimonioso, e suporto, com resignação, certos comentários e atitudes. Entretanto, para tudo existe um limite, e eu já não consigo suportar, silenciosamente, a "opinião" apaixonada, virulenta e descabida de gente que não tem o menor respeito pelo alheio. Me dirigirei, portanto, aos que se acham senhores absolutos e incontestes da Verdade.
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Talvez esta venha a ser, dentre todas as minhas as postagens que já fiz até hoje, mais antipática. Mas, em defesa dela, posso dizer tão somente duas coisas, e ambas são ditos populares famosos:

A primeira é: "É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!" (Lucas, 17:1). E, acreditem, não sou eu o autor dos escandalos...

E, caso a primeira não tenha significado algum, eis a segunda: "Que diabo se importa?"

Polêmico? Eu? Sempre! Devo isto à uma peculiaridade que considero, em dados casos, uma dom e uma benção: a capacidade de ser inquieto, de não me dar por satisfeito, de questionar, de buscar compreender, ao invés de acatar, mecanicamente.

E é por isto que estamos aqui.

"Eureka" é uma palavra grega que tem, por significado, "encontrei". Tornou-se mundialmente famosa graças à Arquimedes, que havendo compreendido um princípio físico/matemático que lhe renderia fama, no instante em que estava numa banheira, saiu rua afora, nu, comemorando sua descoberta. 



Deve ter sido um escândalo, é claro. Mas foi e é compreensível: para ele, foi o equivalente à ser o ganhador da "mega-sena" acumulada. Imagine-se, numa banheira, no exato momento do sorteio, e com o bilhete na mão, descobre que foi o único ganhador de um prêmio milhonário. Pois é...

Mas escandalosa mesmo, de verdade, é a situação social que temos em nosso país, principalmente hoje em dia. Se você pensou na política, sinto muito em lhe dizer, mas você está ligeiramente longe da verdade. Não seixa de ser algo político, mas a natureza exata do infortunio que vivemos é a religião.



Religião, para mim, é algo sagrado. Não importal qual, TODAS são sagradas, e TODAS merecem igual respeito e consideração. Não existe religião melhor ou pior. Existem religiões diferentes. Assim como também existem fiéis bons e ruins, e isto é um fato que ninguém pode ignorar. Mas hoje em dia, vem a pergunta que, no passado, tinha uma resposta diferente da que penso existir agora: A Religião sobrevive aos seus religiosos?

Hoje eu li, nos tabloides eletrônicos, que o atual Papa, formalmente, pediu desculpas às vítimas dos padres criminosos. Realmente, é lamentável esta situação, mas é ainda mais lamentável lembrar - ou tentar esquecer - que não é de hoje que crimes e criminosos se encontram dentro da Santa Igreja. Tais crimes e criminosos não são de agora, e estes, dos quais temos notícias, não serão os ultimos.


Mas há crimes e criminosos em todas as religiões. Se assim não fosse, não haveria necessidade delas. A função e missão das religiões é encaminhar as pessoas ao caminho da retidão e evolução espiritual, de modo que elas possam se tornar melhores. Mas há, infelizmente, um ramo religioso que se destaca pelas discrepâncias entre o discurso e as práticas dos religiosos. Na boca destes, eles mesmos são perseguidos constantemente, mas qualquer um que não seja de sua fé, por estes é perseguido e ultrajado, desrespeitado em sua própria crença ou por ser representante dela. Aliás, não precisa nem ser de outra religião: basta não ser da mesma congregação, e os conflitos se iniciam.

Sabe que religião é esta? Ainda não? Pois vou dar uma dica, e em forma de música. Na letra do conjunto Velhas Virgens, "Aposentadoria de Malandro":

- Alô Bezerra!

Isso prá mim
É aposentadoria
De malandro...(2x)

Que foi sangue ruim
A vida inteira
E depois de velho
Quer virar santo
Esse era o cara
Que quando era novo
Fumava e bebia
Não tinha amigos
Não tinha família
Onde passava
Era só confusão
Fez falcatrua
Roubou de cego
E de aleijado
Mas hoje em dia
Entrou prá igreja
E diz que tá regenerado...

Isso prá mim
É aposentadoria
De malandro...(2x)

Deu cheque sem fundo
Tomou emprestado
E não pagou
Vendeu aquilo
Que não era dele
E até os amigos
Ele caguetou
Ganhou tanta grana
Comprou jatinho
E lancha a motor
Depois de rico
Entrou prá igreja
E hoje diz que é pastor...

Isso prá mim
É aposentadoria
De malandro...(2x)

Quando via um mendigo
Tratava sempre na porrada
Pintava e bordava
Com a filha dos outros
E largava depois que enjoava
Mas hoje em dia
Faz sermão
Dá grito e reclama
Diz que sexo sem casamento
É coisa de gente sacana...

Isso prá mim
É aposentadoria
De malandro...(2x)

Esta não é a letra integral, e qualquer um pode encontrá-la na internet. Mas o fato é: eu, que sou de família evangélica, sei bem como algumas pessoas, de má índole e por vezes de má fé, conseguem conspurcar uma religião que tinha tudo para ser bela, mas que, para muitos, torna-se extremamente antipática e incomoda.

Bezerra da Silva, em muitas de suas músicas sobre a vida e o cotidiano nos morros cariocas, já falava dos "ladrões de gravata". Eu mesmo já passei poucas e boas por conta destes, que nada mais são que lobos em peles de cordeiro. Aliás, na pele de pastor!



Nada contra a religião. Tampouco contra os fieis. Mas a fé cega só pode criar extremistas, e nunca à obreiros. Pensem nos radicais islâmicos, os xiitas. Pensem nos nazistas (sim, um belo exemplo de cristãos radicais e extremistas). Pensem nos inquisitores (novamente, cristãos radicais e extremistas). Dentre todas as religiões, nenhuma tem mais sangue em suas mãos do que o cristianismo. E mesmo que se juntem todas as outras, ainda assim, o conjunto delas não iria superar o cristianismo em culpas, crimes e atrocidades "em nome de Deus". E é uma religião tão bela, tão nobre e tão benevolente. Os ensinamentos de Cristo são praticamente iguais aos que se tem nos ensinamentos de Buda, que é igual ao que se tem nos ensinamentos de Lao Tsé, que é igual os ensinamentos de Krishna, que e igual a constatação de inúmeros outros sábios e profetas e homens santos e divinizados, encontrados aos montos nas mais diferentes e diversas culturas e nações.

O problema não é Cristo. Nem o Cristianismo. O problema são os "Cristãos". Coloco entre aspas pois não considero ser, um verdadeiro cristão, a pessoa que, em nome de Cristo, e dos ensinamentos de Cristo, viola as próprias palavras e ensinamentos de Cristo:

Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.

Livro de Mateus, Capítulo 22, Versículos de 36 a 40.

Aprendi, desde pequeno - pois sou de berço cristão - que não se pode amar ao Pai sem que se tenha amor pelos filhos, e não se pode amar aos filhos sem que se tenha amor pelo Pai. Um depende do outro. E como pode, então, uma pessoa que diz "amar a Deus", ter tanta ojeriza por Seus filhos, quer sejam eles de outras igrejas e/ou religiões? Ou até mesmo por ser diferente, ter preferências e gostos diferentes?



Não existe amor sem respeito. Não existe amor sem compreenção. Não existe amor sem consideração. Não existe amor sem empatia. Não existe amor sem simpatia.

Do mesmo modo, onde há intolerância, não há amor. Onde há discriminação, não há amor. Onde há subjulgação, não há amor. Onde há ódio, não há amor. Onde há pré-conceito, não há amor.

Mas o triste é que, infelizmente, devemos a intolerância etnica e religiosa, tão velada e tão presente nos dias de hoje, à própria indulgência dos crentes às palavras de seus "pastores", pois são eles os (de)formadores de opiniões. E, para muitos, é mais fácil ir à igreja ouvir alguém explanar seu entendimento, de modo a parecer que ele é o dono da verdade, do que buscar a verdade por si mesmo, com seus própriso olhos, com seu próprio entendimento.

Onde estão os "olhos de ver e ouvidos de ouvir"?


Há sabedoria e sensatez naquele que, possuindo o poder e a oportunidade de pensar por si mesmo, cede seu pensar a outra pessoa, e faz do pensamento desta, sem qualquer questionamento, o seu próprio pensamento?

Cegos conduzindo cegos. Ou melhor, cegos se deixando conduzir por outros cegos...

Creio que não seja nem sábio nem sensato, mas é o que mais vemos hoje em dia, nas milhares e milhares de "Igrejas" que surgem, velozes e vorazes como pragas de gafanhotos, sustentadas por pessoas que, em boa parte das vezes, não possuem sequer a mínima virtude necessária à um sacerdote: amor incondicional. A única coisa de que sabem falar é de $$$, e nada mais.


E se for correto o que dizem nestas e em outras Igrejas ao redor do mundo, então estamos vivendo "O Fim dos Tempos", pregados pelo livro Apocalipse. E, sendo isto uma verdade, também são verdadeiros os vários alertas contidos tanto no Novo Testamento quanto no Antigo, quando nos chama a atenção quanto aos "falsos profetas":

Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. (1 João 4:1)

E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. (2 Pedro 2:1)

Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vós, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas! (Lucas 6:26)

E, por fim, o meu favorito:

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mateus 7:15-20)

Seja um bom "Servo de Deus", mas seja DE DEUS, e não do pastor. Orai, mas vigiais também. Nenhum profeta de Deus faz a vontade de Deus disseminando ódio, intolerância, discriminação ou pré-conceito. Nenhum servo de Deus trata o seu próximo como se o Julgamento Final - que porventura não pertence ao homem - já houvesse ocorrido, e que aquela pessoa já estivessem condenadas. Quem, dentre nós, conhece as vontades e os pensamentos de Deus? Estariamos, portanto, habilitados a falar por Ele ou julgar em Seu lugar?

Até vale a pena repetir um comentário que ouvi, tempos atrás: "Então me apresente a 'Procuração de Deus', delegando a você o poder e a exclusividade de representá-lo!"

Pois então.

A estes, que se assemelham tanto aos nazistas, aos xiitas, aos inquisitores e a tantos outros fanáticos extremistas radicais, dou apenas mais um alerta: nos tempos de Jesus, haviam os "Doutores da Lei", igual a vós. Estes eram os "Escribas" e os "Fariseus". Lembra-se? Não? Pois vou ajudar a lembrar:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas... (Mateus 23:23-33)

Assim sendo, tenham cuidado com suas palavras, queridos proselitistas, e com a autoridade com que se revestem, em nome de Deus e de Cristo, pois 'em verdade eu vos digo', vocês não estão se distanciando muito daqueles doutores da lei.



E, para concluir, gostaria de deixar, aos que se revoltaram com minhas palavras, e se sentiram ofendidos por ela, que leiam a seguinte parábola:
 
Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;
E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara.
Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.
Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?
E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia.
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.

Mateus 5:23-35

Ah, sim! Sobre a pergunta que fiz, quanto à sobrevivência da religião, acredito que sim, elas sobrevivem, mas não como as mesmas, e, caminhando na estrada por onde caminham ultimamente, certamente elas sobrevivem com toda a sorte de distorção, deturpação e deformidade...