sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mais que um simples voto

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"No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise." (Dante Alighieri)

Tenho sorte por conhecer muitas pessoas. É o que me possibilita andar muito, e conversar ainda mais. Ouço as opiniões alheias, e pondero sobre cada ponto observado, cada explanação feita, cada consideração levantada. Não trato com leviandade o ponto de vista de terceiros, sejam eles quem fores, ainda mais quando tratam de temas sérios, por vezes polêmicos. E, não raramente, a maioria destas pessoas pede a minha opinião. Alguns, é claro, para sondarem minhas perspectivas, e até tentam me "converter". Outros, mais raros, buscam compreender minha percepção das coisas, pois me consideram sensato o suficiente para manifestar uma opinião bem distinta e plena de reflexões.


Atualmente estamos no limiar de algo que considero um momento de extremo limite. É como uma repetição dos eventos que se evidenciam em 1963, e culminam com o "golpe" de 1964. Salvo algumas particularidades, estamos praticamente nas mesmas condições gerais. Diferente daquele tempo, o perigo está na escolha a ser feita. E, então, muitos estão na expectativa: quem será o futuro presidente do Brasil? Mas, antes desta pergunta, há outra que deve ser respondida: a quem você dará seu voto?

Eu já tenho a minha resposta. Como monarquista que sou, terei a infelicidade de quebrar meu regime de votos nulos pois, neste caso, omissões podem resultar em catastrófes. Mas a questão não é em quem irei votar. É no que não quero para meu país. E se engana quem pensa que é uma questão de escolher entre duas pessoas. Não! Trata-se de uma escolha entre ideologias e métodos distintos de governo. E, neste caso, muitas coisas distintas devem ser consideradas na equação, inclusive valores religiosos e morais.


Por ser cidadão, e usuário, considero que muitos dos serviços públicos podem e devem ser privatizados, pelo bem da nação. É vergonhoso o modo como algumas pessoas, visivelmente desqualificadas, fazem dos cargos públicos um cabide de oportunidades, ou desempenham suas funções sem qualquer compromisso ético ou moral, e mesmo às custas do desrespeito às vidas que são obrigadas à se dirigirem à eles. Maus tratos, ultrajes e humilhações institucionais que não podem ser combatidas, pois fazem parte do sistema administrativo público (carcomido e degradado). Lembro-me que muitos foram contra a privatização da telefonia pública, e previram um monte de desgraças. E, ao contrário do que fora dito naqueles dias, hoje até os mendigos possuem telefone  próprio. Para muitos serviços públicos, a melhor solução, inclusive para o bem da população (no que tange a questão da relação entre produtos & serviços), é a privatização. Mas também desejo que, caso haja a privatização, que seu processo ocorra, do início ao fim, de modo transparente e honesto. E ninguém é bobo de imaginar que a população ficaria à mercê das empresas privadas. Para isto, dou três motivos, entre muitos outros: mecanismos jurídicos de proteção ao consumidor; a política de livre concorrência, oferta e procura, as quais regem as relações comerciais; e a eventual intervenção do Estado é, também, uma alternativa de controle muito eficaz (e sempre absoluta). Mas a privatização é apenas uma das facetas de uma solução simples e necessária: erradicar a absurda estabilidade e protecionismo incondicionais que caracterizam, aqui no Brasil, um funcionário público. Isto evitaria muitos abusos, e esta interminável sensação de impotência e revolta de quem é obrigado, por falta de outra opção, a usar este tipo de serviço.

Descaso, desrespeito e omissão pública
Por ser espiritualista, e (re)encarnacionista, não considero a descriminalização do aborto um avanço social. Mais do que isto: esta é uma medida paliativa, que trará, à longo prazo, mais problemas do que soluções. Mesmo que seja desconsiderado o fator religioso (espírito/(re)encarnação) o qual não pode ser desprezado, ainda há o fator social: descriminalizando o aborto, teremos um bum! nos casos de doenças venéreas, principalmente a AIDS, pois muitas pessoas evitam o sexo desprotegido justamente por conta do perigo da concepção indesejável. Então, mais do que os gastos públicos com os abortos (que virão aos montes - promovidos pela falta de responsabilidade, critérios, controle e ou responsabilidade - e que também sofrerão com os mesmos problemas comum e típicos da atual saúde pública brasileira), haverá também os gastos com os tratamentos de doenças venéreas de modo geral, recursos estes que poderiam muito bem ser direcionados à políticas de conscientização e educação mais enfáticas e constantes. Sem considerar a criação e implementação de programas pró-maternidade (muito mais úteis e salutares que o famigerado bolsa-família). E não só a questão religiosa seria respeitada, mas a própria condição humana também. E seria muita ingenuidade acreditar que, na política, não existe a intervenção e mesmo o império de considerações religiosas. A morte de inocentes não é e nem pode vir a ser uma opção.


Por ser romântico, e empático, considero que a legalização da união civil de casais homossexuais um grande avanço social. É também uma questão de justiça. Independente do gênero, "raça", credo e condição social, nada deveria impedir a união estável e publicamente reconhecida de duas almas que se amam e se desejam mutuamente como par. A partilha de direitos civis matrimoniais deveria sim, ser universalizada, entretanto, também não podemos obrigar , arbitrariamente, que as religiões modifiquem suas considerações históricas e culturais, as quais são, de fato, suas estruturas e alicerces, para agradar, forçosamente, uma pequena parcela de professantes. O respeito para com uns não exige, necessariamente, o desrespeito à outros. Casamento civil é uma coisa. Casamento religioso é outra. Conquistar o primeiro é um avanço fenomenal. Mas também não podemos desejar demais, em tão pouco tempo. E estamos falando de modificações nas estruturas legais do Estado. Para crenças, e tradições religiosas, o assunto é bem mais complicado. Assunto polêmico para ser tratado em tão poucas linhas, mas ainda assim, uma opinião que precisa ser manifestada, à título de ponderação.


Por ser filósofo, e historiador, não posso conceber um líder político que tenha, como raiz de suas ideias, e como azimute de suas ações, personagens históricos como Stalin. É o mesmo que assumir, também, ter como orientação política à Hitler, Mussolini, Saddan Hussein, Mao Tse-tung e vários outros, de governos mais contemporâneos. E o que é que há de comum entre todos estes políticos/governantes? A ação de que utilizaram para trazer o "progresso" à sua nação: morte e crueldade! Sob o governo destas pessoas, milhares de seres humanos receberam tratamentos que não se dispensam à animais. Centenas de milhares de pessoas foram escravizadas, executadas, ou simplesmente condenadas à inanição (sim, morte pela fome).

Stalin
E que pode haver de mais desrespeitoso à vida do que a morte?

Existe, na trajetória humana, vários capítulos negros. Eventos vergonhosos, de verdade. Mas se é fácil lembrar do mais recente e vergonhoso (o Nazismo e seus campos de concentração, com o genocídio realizado nos campos de extermínio, e que deram ao Holocausto um novo entendimento, e popularizaram o termo "antissemitismo"), é extremamente difícil lembrar de outro, talvez tão ruim ou ainda pior, cujo autor é considerado um heroi por muitos líderes políticos da atualidade, e jovens militantes políticos, ambos descompromissados com a história da política e governo mundial. Trata-se do vergonhoso episódio conhecido por Holodomor, promovido pela política de desenvolvimento de Stalin, durante seu governo.

Vítimas do Holodomor de Stalin
Holodomor (em ucraniano: Голодомор) é o nome atribuído à fome de carácter genocidário, que devastou principalmente o território da República Socialista Soviética da Ucrânia (integrada na URSS), durante os anos de 1932 - 1933. Este acontecimento — também conhecido por Grande Fome da Ucrânia — representou um dos mais trágicos capítulos da História da Ucrânia, devido ao enorme custo em vidas humanas. Apesar de esta fome ter igualmente afectado outras regiões da URSS, o termo Holodomor é aplicado especificamente aos factos ocorridos nos territórios com população de etnia ucraniana: a Ucrânia e a região de Kuban, no Cáucaso do Norte.

Memorial Holodomor: para que jamais esqueçamos...
Diante destes episódios, e dos líderes políticos que os desencadearam, é pertinente perguntar: o que há de errado em ideais como o socialismo, por exemplo? Com o ideal socialista, nada. Com a ideologia socialista, tudo. É, antes de qualquer outra coisa, uma questão de métodos e princípios. O ideal que surge do desejo por uma sociedade igualitária, fraterna e harmônica é lindo e venerável. Eu mesmo desejo viver em um mundo assim. E quem não desejaria? Costumo dizer que eu sou um "socialista utópico": a sociedade que desejo já foi imaginada, mas tal ideal é, por muitos, considerado um sonho impossível, uma utopia. Desejo algo como o que se imagina que é o Jardim do Éden dos cristão, ou os Campos Elíseos dos gregos, ou o estado de Nirvana dos budista, ou como o que se  tem em "Nosso Lar", colônia espiritual descrita no romance mediúnico de Xico Chavier, que tornou-se vídeo recentemente. Um lugar, como estes, é algo sem paralelos em nosso mundo, e em nossa história...

O problema, como falávamos, não está neste tipo de sociedade, mas no método empregado para alcançá-la. Existe um ditado alemão que diz mais ou menos assim: "nenhum produto final pode ser melhor que sua matéria prima".  E, falando em Alemanha, alguém se lembra do Muro de Berlim? Pois é... Este é um caso típico. Como é possível florescer uma sociedade de paz, amor e igualdade entre os escombros de guerra, ódio, injustiça e morte? Eis um verdadeiro paradoxo. Como o ódio pode gerar amor? Como a injustiça pode gerar igualdade? Como a coerção pode gerar liberdade? Como mentiras podem gerar verdades? Como? E isto me lembra uma citação bíblica: "reconhece-se a árvore pelos seus frutos". Assim sendo, também é possível reconhecer, pela semente, a árvore que ela virá a ser...


Não consigo acreditar que alguém que seja capaz de mentir tão fácil e descaradamente, possa dar fiel cumprimento ás suas palavras. Pior que isto: creio que quem é capaz de matar, e tramar a execução de várias pessoas e a realização de vários crimes, em nome de uma ideologia, também é capaz de fazer muito mais, e muito pior.

Stalin fez. Hitler fez. Mussolini fez. Mao Tse fez. Saddan fez. Fidel fez e faz. E não estou disposto a permitir que outra pessoa, que tão claramente defende os mesmos ideais, utilize-se dos mesmos métodos e tenha os mesmos escrúpulos que estes, tenha, aqui e agora, a oportunidade de fazer o mesmo tipo de barbárie que fizeram em suas respectivas nações.

Stalin & Mao Tsé
Não acredito na existência de uma "democracia brasileira". Tampouco acredito que o atual sistema político/administrativo do Brasil seja impecável. Para mim, este está pra lá de pútrido e decomposto. Precisamos de algo novo, e radicalmente diferente. Mas enquanto não surge este novo sistema de política democrática e administração pública, livre da corrupção patente e descarada que existe agora, o mínimo que podemos fazer é escolher alguém ou algo que não seja maléfico, malévolo, venal e perverso.

Quem, ou o quê, matou Tamayo?
Por uma questão de respeito aos meus próprios princípios e valores, e por respeito ao que ainda resta de justo e sagrado em meu país, não irei meramente votar em Serra, ou no PSDB. Simplesmente irei votar contra o ideal deturpado e vil que vem pela pessoa de Dilma, e contra a política corruptara e corruptível do PT.

O BRASIL PODE MAIS!!!
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