terça-feira, 10 de março de 2009

QUANDO ESQUECER É A MELHOR COISA A FAZER.


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Quero escrever desta vez sobre um tema que é demais controverso: o passado. Bem é verdade que se não resolvido ele atormenta. É bem possível que por conhecê-lo nos orientemos melhor em certos momentos da vida, quando nos é cobrada uma escolha. Verdade também é, contudo, que ele, para muita coisa, é melhor ser esquecido.
Sou historiador. Tenho pouco mais de vinte anos de experiência nesta maravilhosa e irremediável aventura que é a vida. Sei que é pouco. Ainda assim, atreverei-me a refletir sobre tão complicada questão: é melhor esquecer do que lembrar certas coisas?
Todos nós sabemos, a história como disciplina existe para uma finalidade. Profissionais chamados historiadores recolhem fatos sobre o passado, os encadeiam numa sequência lógica, chamada narrativa, e oferecem o resultado de seu trabalho ao grande público – e recebem para isto. Há oferta, pois existe uma demanda. Esta se assenta na necessidade que o ser humano possui de questionar. Através das respostas a tais questões, os homens orientam suas vidas. E o homem sempre se questionou acerca de seu passado. Enquanto individuo e espécie.
Todavia, a resposta dada ao grande público pelos historiados é sempre contaminada. Inexoravelmente o historiador trabalha para alguém, alguma causa ou bandeira. Portanto, sempre que você lê ou ouve uma história, ela pode ter sido manipulada, deturpada ou falseada, e isto é feito para atender a certo fim. Nem todos, porém, sabem disto. A grande maioria, aliás, desconhece esta regra.
Últimamente, por exemplo, nossos livros didáticos orientam-se, quase todos, sob a perspectiva marxista para explicar a história – leia-se a realidade. Esta é somente uma maneira de enxergar o mundo, mas para os leitores de livros didáticos de história está se tornando a maneira de enxergar o mundo. Nem é preciso comentar o quão perigoso isto é. Afinal, já diz o ditado: temei ao homem que jura sobre um livro só.
Certas coisas estão acontecendo em nosso país, além desta, que me preocupam. Uma delas é a famigerada questão sobre as cotas raciais. No senso comum, na memória coletiva e no imaginário do povo brasileiro, raça é algo engraçado. Afinal, somos a união de todas elas. O tipo ideal brasileiro não é ariano, nem o Anglo-Saxão-branco-protestante. Fomos fundados enquanto nação sob o mito da democracia racial. Por mais errôneo que ele possa ser, admite-mos, é um jeito saudável de preparar o país para o futuro. Todos iguais e ponto final.
Nesse momento exponho outra faceta da história: ela serve ao presente. Nesse sentido, muitas vezes é melhor ser esquecida em nome da integridade e paz, isso para que se evite o conflito, a ruptura e a desunião.
Calma!!! Não proponho esquecer nosso passado de escravidão - a página mais suja de nossa história. Ergo-me, no entanto, enquanto historiador e cidadão brasileiro, para protestar quando este passado é usado – e abusado – para fins incorretos e perigosos no presente. Sou contra as cotas raciais, e direi meus motivos.
Sim, certamente o nosso passado de escravidão contribuiu para as desigualdades sociais que afligem e acometem nosso país. Isto tem que ser reparado. É justo que seja. Mas existem pobres que não seriam enquadrados como negros e nem como índios. O que a nação lhes ofereceria? Ela tem que ser equânime para todos.
Caso passe a vigorá o sistema de cotas raciais, atestará que os negros e índios são menos capazes do que os demais brasileiros, e isto por critérios raciais, o que é um absurdo.
Por último, corremos o risco de dividir o país – dito o mais democrático do mundo quando a questão é raça – em brancos, negros, índios, cor de rosa... Isso em um país cujo marco fundador é miscigenação. Iremos, desse modo, desmentir o mentido que tem nos guiado até hoje – e que é uma das maiores belezas deste país. Da união entre todas as raças demos origem a uma raça indefinível, a não ser por sua beleza.
Existe uma saída para tudo isto. Creio que há, sim. As cotas para alunos de escola pública. Veja só: os menos favorecidos teriam mais oportunidade – inclusive os negros e índios – e os critérios para considerá-los menos capazes seria o econômico. Em nosso país, por ironia, ser pobre não é vergonha, é até orgulho. Nesse sentido, o critério cairia “como uma luva” para nossa cultura.
Por último, há o fato de que este critério é a um longo tempo já usado por diversas instituições de ensino, sobretudo as federais. Nem todos nós, no entanto, sabemos disto. O motivo: ele não dividiu o país. Portanto, é saudável. Quanto ao critério racial, tenho muito medo. Mas se a maioria do país quer, é pagar para ver.