Este texto possui um objetivo claro: nele pretendo afirmar quais foram os motivos que me fizeram deixar de ser “revolucionário” para me tornarem “reacionário”. Para tal, farei uma estratigrafia de minhas recentes descobertas, procurando uma ordem nos eventos que contribuíram para que, em pouco mais de três anos, isso acontecesse. Portanto, procederei como um cientista que estuda a si mesmo a partir do método básico das ciências, isto é, juntarei os fatos recentes da minha vida, em busca de uma constante que torne possível generalizá-los. O resultado desse processo apresento-lhes agora, nesta narrativa. Convém antes advertir que este é um esforço pessoal para um fim pessoal. Longe de influenciar, estou em condição de humildemente aceitar que, por enquanto, sou eu o sujeito influenciado. Não tenho mínima pretensão de achar que minhas experiências e conclusões parciais sobre a realidade interessem ou sejam úteis aos outros – não considerável e seriamente. Não sou uma mente superior a todo esse processo de educação e leitura de mundo existente no Brasil, mas tão só mais um de seus filhos rebeldes, que, pasmem, acredita em coisas como verdade e probidade intelectual. É, então, por acreditar em tais loucuras arcaicas, que movo-me em meio ao mar de lama atual, procurando descobrir maneiras de pensar para além daquilo que é oferecido, em busca de “diamantes entre mendigos”, de honestidade entre a completa corrupção reinante. Se divido com vocês meus esforços e conquistas, é por puro ato de desespero. É uma tentativa inócua de fugir momentaneamente de toda a frustração que guardo; numa fuga fugaz, é certo, mas ainda assim bem acolhida em meu espírito. Pode parecer incrível, mas isso é o máximo que consigo fazer agora. Estou destruído e pronto a reagir, no sentido mais verdadeiro do termo “reacionário”. Minha reação, porém, é patética. Todo modo, procurarei exercê-la com honra, de maneira quixotesca, ou patriótica, pelo menos (e olhe que meu senso de responsabilidade para com a nação nem deveria ser tão grande assim, pois nunca fiz nada de valor para seu bem, nunca construir nada de especial visando-a, nem jamais a defendi quando, como uma formiguinha, poderia ter feito: antes ajudei a destruí-la, pois votei em Lula – aí que vergonha!)
Pois bem, cumpre explicar os motivos que me fizeram afirmar que fui, um dia, revolucionário. Não, não pertenci a nenhum partido político (embora tenha sido convidado aos 18 anos para entrar nas fileiras de um que achava Hugo Chaves burguês – é sério, o partido era leninista a toda prova!) Não, não fiz campanha para nenhum político (embora tenha sido convidado, aos 16 anos, para ajudar na campanha de reeleição de um vereador petista – seria meu apogeu, mas perdi o contato e não deu certo.) Não, não fui filiado ao MST (ele nem existe, sabia, não possui registro) ou a qualquer outro movimento social (o único movimento de que fiz parte foi o movimento pelo direito de pular o muro de minha antiga escola, quando um político foi fazer uma inauguração nela e nós, alunos, ficamos impedidos do direito de ir e vir – os portões da escola foram fechados para ninguém sair, e desde então eu odeio solenidades políticas.) Toda forma, apesar desta minha incrível passagem no movimento revolucionário internacional, eu me considerava revolucionário e esbanjava aquele sorriso besta, cretino e pretensioso próprio dos que não tem importância nenhuma e se acham iluminados. Hoje entendo tudo isso como uma grande sorte, ao ver que tais iluminados, com um pouco de pseudo-conhecimento e algum poder, se acham na condição de avaliar situações por um pensamento pragmático que é antiético, inebriante, vaidoso e, principalmente, criminoso.
Ora: por que me tornei “um revolucionário de merda”? Fácil, em virtude de anos e anos de formação escolar puramente materialista, que fornece respostas e não dúvidas ou questões abertas, que fornece compreensões sobre a natureza e o homem de acordo com o espírito moderno de tudo observar pelo visível e o imediato, e exclui qualquer possibilidade de conhecimento autônomo ou sincera busca e investigação da verdade. Não digo que minha formação escolar tenha sido “revolucionária”. Ela foi precária, baseada em propaganda sem nenhuma reflexão por parte dos professores, vítimas tanto quanto eu da falta de elementos contraditórios, informação e conhecimento sobre “outras maneiras de pensar”. Além disso, ela foi também fajuta, pois a falta de capacidade unida à falta de vontade produz um mundo imaginário, que por sua vez cria coisas espantosas: nesse sentido, tornei-me um adolescente imbecil. Mas o pior é quando você se torna um adolescente imbecil leitor: aos 15 anos “peguei” gosto pela leitura e, pelo conhecimento que até então dispunha, fui ler Marx, Lênin, Guevara, Fidel, Frei Beto e sociólogos comprometidos – a única coisa boa que li nessa época foi “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, e uns pobres manuais de filosofia. Apesar de toda essa cultura, aos 17 anos prestei vestibular – para História - e passei, o que causou minha primeira grande decepção com o mundo, e uma grande euforia também, pois nem eu, iluminado, sabia ser tão fácil conhecer tão pouco e, ainda assim, conhecer mais do que muitos outros. Foi nesse contexto que entrei na universidade, já desconfiado de sua fama.
Minha primeira semana na universidade foi espetacular: ela não pareceu ser tão difícil, com a exceção de um único professor: Walner Barros Spencer. Este atípico ser me causou uma impressão muito forte: era alto, vigoroso, erudito, inteligentíssimo, de excelente humor e conservador, pouco se lixando para os discursos e práticas politicamente corretas e, de forma alguma, confundindo ética com etiqueta. Esta única pessoa foi responsável por destruir todos os paradigmas de meu mundo, num efeito dominó, apenas por dois motivos: suas qualidades e a novidade que me oferecia, a qual nunca consegui, ainda que num esforço desumano, contestar. De fato, suas questões me conduziram a descobrir uma América, de forma que, por haver me posto diante de perguntas, muito mais do que respostas, ele é responsável por minha guinada ao espetáculo da verdade, ao passo que deixou-me subsidiado de autonomia. Dessa forma, isento de qualquer culpa por eventuais desvios, ele é absolutamente o primeiro responsável por eu ter me tornado pretensiosamente um conservador – pretensiosamente, digo, pois nem sei ao certo o que seja isto, tão poucas são as informações circulantes no meio cultural brasileiro sobre o conservadorismo.
Iniciado o processo de destruição de minhas crenças, converti-me em algo parecido a uma “metamorfose ambulante”, e logo uma reconstrução precisava ser operada. Demorou três anos – os últimos três anos de minha vida – para que essa reconstrução começasse a render frutos. Foi uma reconstrução, de certa maneira, lenta, e está sendo lenta, devido à firmeza do terreno em que deve está assentadas as novas idéias conquistadas, para que outra enxurrada não as destruam, desnudando-as e mostrando-as despossuídas de substância, fracas e falsas. Tal reconstrução, por ora, está apenas no começo, pois ainda não reconstruir nada, mas descobrir um caminho que julgo provável para isso, e esse caminho me chegou às mãos num acaso, sendo apresentado por um tipo emblemático de pessoa: Olavo de Carvalho.
Pois bem, e o que diz Olavo de Carvalho (no que se refere à política atual)? Resumidamente, este filósofo considera que a origem dos movimentos revolucionários está na presunção de todos eles em transformar a sociedade para modificar os homens, pois, como afirmara Marx, o importante não é compreender o mundo, mas transformá-lo, dado que é a matéria (relações econômicas) que fundamenta as idéias dos indivíduos. Para pôr em prática esse miraculoso plano, o pensamento revolucionário, como forma de acelerar o tempo, apóia-se na consciência coletiva das massas (Nas idéias brotadas do meio material que dá origem aos revolucionários - Gramsci), o que implica a desculpa dos inevitáveis crimes individuais cometidos durante o processo de construção do paraíso na terra. Somente assim, torna-se possível que a sociedade seja conduzida por uma ética e moral completamente novas, contrárias a ética e a moral “burguesa”, judaico-cristã. Essa nova forma de julgamento humano, que desconsidera a consciência individual em nome da coletividade, é para os revolucionários o ápice da forma organizacional da vida humana. Exatamente por desconsiderar a individualidade, ela investe de poder certos grupos restritos, que passaram, passam e passarão a ditar ditatorialmente o que o “povo” precisa (passaram, passam e passarão, pois o movimento revolucionário já chegou ao poder, desde os jacobinos; está no poder, caso da Venezuela, p.ex.; e certamente chegará ao poder, visto que é um movimento forte, reciclável e regenerável – no sentido de que apanha mas não morre. Por ter dimensões histórico-culturais, pois transcende a vida biológica de um ser humano, o pensamento revolucionário sobrevive a tentativas malogradas de implantação e predomina ainda que já tenha realizado o diabo na face da terra (na América Latina, então, ele deita e rola). Entenda o leitor, que por movimento revolucionário não está incluso apenas os movimentos comunistas, mas todos aqueles movimentos que perseguem a conquista do Estado para usá-lo como instrumento de transformações sociais, como o nazismo, o fascismo e outros filha-putismos, como o petismo, estejam eles inspirados em idéias de evolução biológica ou puramente de perfeição social mediante a luta de classes ou arquitetamento científico. Não preciso mencionar os crimes cometidos em nome de tais idéias, mas se o leitor desejar ler uma boa, impactante e idônea descrição do mal, que, em síntese, é isso aí mesmo, aconselho o livro “Cisnes Selvagens”, de Jung Chang, filha de uma alta autoridade chinesa, expurgada na “Revolução Cultural”.
Poderá perguntar o leitor: tais são os fatores e idéias capazes de converter alguém em anti-revolucionário? Bom, se você é um materialista e tem a capacidade de colocar-se no lugar do outro, demonstrando uma sincera preocupação com as pessoas, eu lhe afirmo categoricamente: sim, isto já basta. Agora, se você é um espiritualista, terá conhecimento de que não somente isto já é o bastante, como também saberá que não há outra escolha possível: entre criminosos sociopatas e qualquer outro lado isento de inspirações criminosas, você obrigatoriamente, sob pena de vender sua alma, terá que, por sincera e absoluta convicção e temor a Deus, escolher a segunda opção. O homem, no único significado possível da palavra, mira-se em verdades e valores religiosos, no tempo infinito, e trabalha para a transformação positiva dos seus iguais, única forma possível de melhorar a sociedade (nada haver com positivismo, outra ideologia revolucionária, ou misticismo barato.) O problema da sociedade não é cientifico – ou pseudocientífico – e sim humano. Aberto ao infinito, o homem, numa atitude religiosa, estará frente às tradições religiosas, que, afinal, ensinam de maneira geral a mais bela moral já conhecida entre os vivos; aliás, todas as civilizações baseiam-se nos ensinamentos religiosos, que são seus mitos fundadores e orientadores principais. Tais são os instrumentais primordiais no que concerne ao comportamento das pessoas, imprimindo-lhes uma forte autoridade, nunca confundida com a opinião (tão cara a filosofia moderna, generalizada e arbitrariamente falando.) Note-se bem, que esta moral e autoridade da qual falo, não é de maneira nenhuma a autoridade hipócrita muitas vezes proferida por alguns partícipes de cultos religiosos externos, embora estes cultos muitas vezes auxiliem na elevação da condição religiosa dos indivíduos que deles fazem parte. A ligação entre o homem e Deus pode ser íntima, verificada pela noção particular de que sua vida, no plano metafísico, não lhe pertence. E a condição mais sagrada desta relação é o amor que todo homem deve prestar aos outros homens em virtude das qualidades e potencialidades intrínsecas da condição humana, apesar do que possa cada indivíduo isoladamente fazer de mal. Essa ideia, eminentemente cristã, transcende aos ajustes morais e qualquer polidez de comportamento em grupo adquirida culturalmente – e por vezes subvertida – por gerações e gerações. Eis a melhor forma de purificar o ego e elevar a condição de sua alma: entregar-se a sociedade ao invés de se enclausurar em uma retidão distante dos problemas terrenos. Entregar-se a sociedade, de maneira nenhuma quer dizer subjugar-se aos seus consensos e idéias transeuntes, momentâneas, mas sim lutar em acordo com sua consciência por valores e princípios às vezes ditos como incorretos em algum período, mas universais. Ora, hoje em dia, nada mais significativo para levar isso a efeito do que lutar contra a anomalia moderna de que é possível meia dúzia de pessoas ditarem o que é certo ou errado e, apresentando uma fórmula para resolver todos os problemas, reivindicarem todos os poderes existentes a si próprios. Não seja criança, deixando que os outros – “o governo” – lhe trate como tal. Duvide de todos os que se digam protetores do “povo” e da “justiça”. No século XX estes já mataram muito mais do que você possa enxergar de estrelas no céu a olho nu.
Por último, cabe tecer algumas considerações sobre o pensamento conservador:
1) Enquanto o movimento revolucionário mira-se no abstrato universal, o conservadorismo preocupa-se com pessoas concretas, e o conservador não pretende mudar o mundo, mas tão só melhorar o seu meio de atuação mais imediato – família, rua, bairro, escola, cidade, etc. Para tal, não reivindica um permanente estado de guerra universal (cósmica), mas sim a tranqüilidade da vida diária;
2) O conservadorismo é uma atitude natural do ser humano, por isso politicamente esse movimento, o mais antigo dos movimentos políticos, não possui uma teoria, embora de maneira geral seja favorável a continuidade em oposição à transformação empreendida por grupos de posse do Estado – fenômeno moderno;
3) O conservadorismo não é contra o Estado, que protege o mais fraco e regula as relações humanas, mas o quer regulando apenas o estritamente necessário. Aliás, quem é contra o Estado são os anarquistas e os comunistas – em tese;
4) O conservadorismo nega a dialética de superação e progresso, mas aceita e abraça as mudanças cumulativas, próprias da condição cultural do ser humano, e que também podem ser enquadradas em um sistema dialético, contanto que desprovido de uma síntese teleológica final; e mais, uma vez que tais mudanças são empreendidas por homens, o conservadorismo de forma nenhuma nega a dimensão histórica do indivíduo, antes a afirma, negando a vontade coletiva como suprema verdade;
5) O conservadorismo não é a favor da dominação de um homem pelo outro, mas entende as hierarquias sociais como um processo natural da evolução dos costumes humanos, opondo-se a dominação de uma minoria que, tendo assaltado o Estado, impõe aos seus cidadãos regras de toda ordem, inclusive com uso da força, que sufocam o indivíduo – eis a verdadeira dominação;
6) O conservadorismo entende as reivindicações como parte do jogo; mas note-se que, apesar do que digam os revolucionários, a brutal maioria das reivindicações genuínas não almejam a destruição do sistema, mas tão só uma pontualidade, às vezes até mesmo ligada ao passado;
7) O conservadorismo não é contrário a racionalidade, mas entende que a racionalidade não está restrita a atual concepção moderna de razão (presa a um método cientifico), alargando-a a campos outros, como a metafísica;
8) O conservadorismo não é a mesma coisa que liberalismo; este surgiu junto ao movimento revolucionário, e a ele se opõem apenas em questões especificas: liberdade de mercado, de livre expressão e forma de governo (democracia ao invés de ditadura de uma classe, raça, grupo ou iluminados em geral);
9) Não, não há movimento nem partido conservador no Brasil, não em escala proporcional ao que há entre a esquerda ou até mesmo entre os liberais; não obstante, o povo brasileiro em sua maioria é conservador; fato é que não apóia o aborto e a liberalização da maconha, e, além disto, preza por amenizar os conflitos (Ver Gilberto Freire.)
Observações:
2) O conservadorismo é uma atitude natural do ser humano, por isso politicamente esse movimento, o mais antigo dos movimentos políticos, não possui uma teoria, embora de maneira geral seja favorável a continuidade em oposição à transformação empreendida por grupos de posse do Estado – fenômeno moderno;
3) O conservadorismo não é contra o Estado, que protege o mais fraco e regula as relações humanas, mas o quer regulando apenas o estritamente necessário. Aliás, quem é contra o Estado são os anarquistas e os comunistas – em tese;
4) O conservadorismo nega a dialética de superação e progresso, mas aceita e abraça as mudanças cumulativas, próprias da condição cultural do ser humano, e que também podem ser enquadradas em um sistema dialético, contanto que desprovido de uma síntese teleológica final; e mais, uma vez que tais mudanças são empreendidas por homens, o conservadorismo de forma nenhuma nega a dimensão histórica do indivíduo, antes a afirma, negando a vontade coletiva como suprema verdade;
5) O conservadorismo não é a favor da dominação de um homem pelo outro, mas entende as hierarquias sociais como um processo natural da evolução dos costumes humanos, opondo-se a dominação de uma minoria que, tendo assaltado o Estado, impõe aos seus cidadãos regras de toda ordem, inclusive com uso da força, que sufocam o indivíduo – eis a verdadeira dominação;
6) O conservadorismo entende as reivindicações como parte do jogo; mas note-se que, apesar do que digam os revolucionários, a brutal maioria das reivindicações genuínas não almejam a destruição do sistema, mas tão só uma pontualidade, às vezes até mesmo ligada ao passado;
7) O conservadorismo não é contrário a racionalidade, mas entende que a racionalidade não está restrita a atual concepção moderna de razão (presa a um método cientifico), alargando-a a campos outros, como a metafísica;
8) O conservadorismo não é a mesma coisa que liberalismo; este surgiu junto ao movimento revolucionário, e a ele se opõem apenas em questões especificas: liberdade de mercado, de livre expressão e forma de governo (democracia ao invés de ditadura de uma classe, raça, grupo ou iluminados em geral);
9) Não, não há movimento nem partido conservador no Brasil, não em escala proporcional ao que há entre a esquerda ou até mesmo entre os liberais; não obstante, o povo brasileiro em sua maioria é conservador; fato é que não apóia o aborto e a liberalização da maconha, e, além disto, preza por amenizar os conflitos (Ver Gilberto Freire.)
Observações:
Quero dizer que essas noções básicas sobre o conservadorismo e também sobre religião podem está erradas, pois eu sou um principiante em suas anotações. Quero também dizer que este é o último texto que escrevo neste espaço, pois irei retirar-me para um período de estudo e amadurecimento de minhas idéias, enquanto continuarei a dizê-las em sala de aula – sou estudante e professor. Quero finalmente fazer uma reverência – e não uma referência – a esses dois intrépidos seres que habitam este lugar tão assediado e visto, que até me deixa um pouco tímido. Senhores, qualquer dia a internet cai por nossa causa!
Aos meus leitores (se houver um só) meu mais sincero obrigado: nem tudo está perdido, ainda tem a morte para nos salvar.