Críticas destrutivas, todo mundo faz:
Àquele político que não agrada; à derrota do time tantas vezes campeão; à rima pobre do jovem poeta. Muitos criticam sabendo que são incapazes de fazer melhor. Criticam porque está em voga criticar. Criticam porque dá um certo ar de intelectualidade. Criticam porque é fácil mostrar os defeitos ou fraquezas alheias. Poucos são os que reservam parte de seu tempo para uma crítica construtiva. Para um simples elogio. A questão é que muitos acham que se está bom, não fizeram mais do que a obrigação, mas esquecem que o elogio é um incentivo e muito mais uma recompensa pelo bom trabalho. Quem não gosta de receber elogios, principalmente quando são merecidos?
Pois bem, este meu tempo, tirado de minhas horas de sono, vem dar crédito e mérito à 7ª Arte. Um filme em cartaz nos cinemas que há muito não via semelhante. É inegável que nem todo mundo é público para todo filme. Muitas vezes os filmes são mesmo direcionados a um público específico. Outros não o são. Ao menos aparentemente. Muitos podem assistir a um filme e gostar muito. Mas talvez este filme não fora feito apenas para se “gostar muito”. Alguns filmes são feitos para se “sentir muito”.
Twilight (Crepúsculo, em português), é um desses filmes e motivo desta crítica. Histórias de vampiros geralmente tendem ao sucesso imediato e, se não for bem feito, tendem também ao precoce esquecimento. Os famosos “15 minutos de fama”. Acontece que filmes fantásticos, que tragam à tona temas fantasiosos, quase sempre fazem sucesso. Principalmente em nossa época. Em meio ao mundo cão que vivemos, o ser humano sente a forte necessidade de preencher-se com o fantástico. O ser humano quer para si a magia que sempre sonhou. Daí o sucesso de “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “Crônicas de Nárnia” e outras centenas de filmes e literaturas. O ser humano é um ser mágico que, por haver esquecido disso, tenta preencher esta lacuna em seu ser com a magia que ele mesmo dá vida. O mundo está cansando de filmes de ficção científica, carnificina pura e comédia idiota. Mas as pessoas não se cansam do mundo mágico. É uma conexão peculiar.
Mas o que há de novo, o que há de diferente no Crepúsculo a ponto de merecer esta crítica construtiva? Muita coisa. O aparente clichê do amor entre o vampiro e a mortal que não podem permanecer unidos por causa da natureza dos dois é sobrepujado pela sensibilidade de dois jovens que parecem descobrir juntos o que é, verdadeiramente, apaixonar-se. “Sim, mas terminou por ser baseado noutro clichê piegas: o amor. O que há de tão diferente nisso?”, você pode me perguntar. Acontece que o clichê bem escrito, bem demonstrado, bem planejado, bem focado, que surpreenda (ainda que seja um clichê), sempre dará certo. Até porque se não desse, não haveria mais porque escrever sobre amor depois de Shakespeare; nem sobre suspense depois de Alfred Hitchcock; nem sobre a vida depois de Sêneca.
O filme não é sobre os vampiros que estamos acostumados a ver: sanguinolentos, demoníacos que vivem apenas nas sombras espreitando sua vítima, mais parecendo animais. O filme nos mostra vampiros humanizados, inclusive nos sentimentos. Sem medo de cruzes, de luz solar, vampiros que fogem ao estereotipo clássico.
Além disso, mostra o amor da forma mais pueril possível. Sem a depravação de hoje em dia com a banalização do sexo e dos sentimentos. Não! É hora de reiterar que há públicos para certos tipos de filmes. O público alvo deste são as pessoas sensíveis, sem nenhuma vergonha de falar sobre isso. A sensibilidade é, em minha opinião, uma das mais belas características do ser humano. O que lhe aproxima do divino. O que lhe faz divino. Ser sensível à melodia de uma música, aos versos de um poema, à fotografia de um filme, é característica cada vez mais em falta no mercado. E esse filme é repleto de sensibilidade, para os que sabem sentir.
A música de fundo, o movimento dos atores, seus olhares, suas posições, seus diálogos, seus silêncios, a fotografia, o cotidiano tão perfeitamente possível, fazem um conjunto de bom gosto difícil de ser encontrado em muitos filmes que arrecadam milhões, mas que não possuem um elenco e diretor sensíveis ao projeto ou ao enredo.
O Crepúsculo não é um filme de arte do início ao fim, mas é muito próximo a isso, já que comparado aos outros filmes do gênero, tem arte até de sobra. É importante ressaltar que esta crítica está imersa e só faz sentido se for analisada num contexto (não sei se é a melhor palavra) hollywoodiano, já que no cinema alternativo você pode encontrar bastante arte, contudo sua abrangência é bastante restritiva. O cinema alternativo é para um público alternativo que já sabe o que procurar, onde procurar e já tem idéia do que vai encontrar. Ao contrário destes que me refiro, que vão aos cinemas de todo o mundo e tem como desafio ser apresentado a um público, que como foi dito no início da crítica, é acostumado a banalização dos sentimentos. Cativar este público é o desafio.
Fica então o elogio à produção do filme e a crítica (construtiva) aos insensíveis de carteirinha. A sensibilidade não o torna mais ou menos isso ou aquilo. A sensibilidade o torna um pouco mais humano, e é exatamente disto que o mundo necessita. Se somos humanos e é de nossa natureza sermos sensíveis ao mundo que nos rodeia, não há porque sentir vergonha de o demonstrar. Acaso as águas do rio têm vergonha de verter e os pássaros de voar?
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