quarta-feira, 21 de julho de 2010

Aprendendo a Viver

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O ser humano é uma criatura fantástica, mas possui um ponto fraco fatal: o tempo!

Podemos aprender muito sobre muito, e ainda assim, muitas vidas não seriam suficientes para que se aprendesse tudo o que é produto da existência humana, culturalmente ou academicamente falando. E de tudo o que existe, a vida é a maior das escolas, e o mais importante aprendizado. E dela, que deveríamos partir sabendo tudo, nada sabemos na maioria das vezes, pois quando começamos a aprender, já não temos mais tempo algum...



Seneca, senador romano cujos pensamentos muito me ajudou em momentos de dificuldade, foi autor de diversas cartas que, enviadas à um amigo,  nos mostra que mesmo no tempo antes do nosso tempo, ou seja, no tempo de nossos mais antigos antepassados, os mais angustiantes problemas pessoais e existenciais continuavam exatamente iguais aos de hoje. O ser humano não mudou, e seus problemas também não.

Ao longo de incontáveis gerações, as mais brilhantes mentes - e corações - de nosso povo ocupou-se em desvendar os segredos do Bom Viver. Que é necessário para se viver bem? Que é preciso para ser feliz? Que deve ser feito para que sejamos plenos? Estes e outros questionamentos foram pontos importantes nas mais severas e profundas reflexões filosóficas e religiosas. E entre a lógica e a fé, entre a ética e a moral, os resultados foram praticamente os mesmos, inclusive entre as mais diferentes e diversificadas culturas, ao longo do espaço e do tempo, nos quatro cantos do mundo, e nas mais diferentes eras humanas.



Até é possível sintetizar a sabedoria destes sábios em poucas palavras, mas elas são tão profundas, e tão densas, que são como enigmas: precisam ser desvendadas, pois na aparente simplicidade há todo um universo de entendimentos e implicações. E, de fato, existem muitas e muitas "sínteses", algumas até bem conhecidas. Uma delas, talvez a minha favorita, diz assim:

Senhor, dá-me serenidade para aceitar tudo aquilo que não pode ou não deve ser mudado. Dá-me força para mudar tudo o que pode e deve ser mudado. Mas, acima de tudo, dá-me sabedoria para distinguir uma coisa da outra.

Creio que a resultante destas três qualidades seja, numa única palavra, o Estoicismo.
Ser estoico é ser auto-suficiente e auto-satisfeito. É, em primeiro plano, bastar-se. Não significa que o estoico não necessite de nada ou de ninguém, tampouco significa que ele se dá por satisfeito com qualquer coisa, como um "barata morta". Ao contrário, ele pode sofrer como qualquer outro, e tem tantas necessidades quanto qualquer pessoa, mas a diferença está na qualidade e na intensidade de seu sofrer e de suas necessidades.



SABEDORIA: um estoico sabe que existem coisas que podem não podem e não devem ser mudadas, que existem coisas que podem, mas não devem ser mudadas, e que existem coisas que podem e devem ser mudadas. Ela as reconhece por suas diferenças, e à elas reage de diferentes modos, utilizando-se do que é necessário para cada uma.

SERENIDADE: não é possível mudar o sol de lugar. Muitos elementos da natureza são exemplos de coisas que não podem e não devem ser mudadas. Ninguém consegue mudar a natureza da vida, a qual culmina na morte. Não existem pessoas que vivam pela eternidade, e que sejam eternamente jovens: todos os humanos envelhecem e morrem. Alguém consegue imaginar o que aconteceria com nosso planeta se o sol, repentinamente, fosse tirado de seu lugar? Eu consigo, e sei que não seria nada legal para nós, que dependemos de sua luz, de seu calor, e de sua força gravitacional. Alguém consegue imaginar um planeta onde os seres não morrem e não envelhecem? Eu consigo, e me pergunto onde seria possível viver com alguma dignidade quando não houvesse espaço e alimento para suprir a necessidade de todos. Então, nestas coisas da natureza, há os traços da sabedoria de Deus, e o estoico as reconhece, e as aceita serenamente. Mas há, também, as coisas que podem mas não devem ser mudadas. Um exemplo destas é, por exemplo, a vegetação de nosso planeta. O ser humano até tem potencial para destruir todas as plantas da face da terra, mas isto representaria um perigo para si mesmo: sem plantas não há vida, simplesmente isto. Fazemos parte de um grande sistema, e dele somos dependentes como qualquer outro ser vivente. Então, diante das coisas que não podem e não devem ser mudadas, um estoico não se revolta, e as aceita serenamente também.

FORÇA: há as coisas que podem e devem ser mudadas. Destas pertencem, por exemplo, os vícios humanos. A gula, a inveja, a maledicência, a impaciência, a intolerância, o egoísmo, a ignorância, e assim vai... Todas estas más qualidades encontradas nos seres humanos podem e devem ser mudadas, tornadas em virtudes. Um estoico se esforça para evitar cair nas armadilhas destes vícios, e isto significa, muitas das vezes, se sujeitar dócil e voluntariamente à certas privações.

Disseram, os mais antigos e sábios representantes de nossa raça, que o Viver Bem não requer segredos. Requer tão somente paz de espírito (serenidade), força (de vontade) e sabedoria. Viver Bem necessita de obediência às leis da natureza e disciplina interior diante dos vícios. Viver Bem necessita de atenção aos eventos internos e externos, e reflexão para proceder da melhor forma possível, perante estes eventos.

Então, em curtas palavras, um estoico é aquele que não se revolta diante do Imponderável da Vida, mas que também não cede às más inclinações que constantemente lhe batem à porta. Se deseja algo, e se por algum motivo não pode tê-lo naquele momento, ele não o rouba, e nem se auto-destrói. Ele se esforça para conseguir, se lhe for possível conseguir, ou se conforma em não ter, se não lhe for possível ter. O estoico sabe que é um ser solitário, pois compreende que ninguém nasceu por ele, que ninguém pode viver sua vida, e que ninguém morrerá em seu lugar. Ser estoico é compreender que somente ele estará consigo em 100% de seu próprio tempo, mas que ainda assim ele é, com o mundo e com as pessoas, um grande simbionte. Isto é ser estoico, no fim das contas.


 
Mas ser estoico é apenas metade da coisa. Existem outras, é claro. Complementar à este comportamento sereno, forte e sábio, há outro, que se faz presente nos detalhes, e se anuncia mais fortemente nas relações que temos com nossos semelhantes. Há uma oração de que gosto muito, e que parece-me uma boa receita para esta segunda etapa do Viver Bem. É a Oração de São Francisco, e por incrível que pareça, eu sempre me lembro dela em forma de canção...

Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
É perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna!
Amém

Viver Bem é, e sempre foi, o somatório de boas qualidades espirituais e comportamentais. É brilhar por dentro e por fora. É ser belo em seu interior, e consequentemente, ser belo em seu exterior também. Ser estoico, para as coisas da vida. Ser virtuoso na sociedade e nas relações sociais. Saber que na vida existem coisas bem mais valiosas que as posses, que as aparências são ilusórias, e que SER é bem mais importante do que TER.
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2 comentários:

Rodrigo Sensei disse...

É simplesmente agradável ler suas postagens, meu Amigo. Melhor ainda é saber o quanto você cresceu em suas auto-reflexões. Simplesmente o esperado, vindo de você!

Obrigado pela sua amizade!

Unknown disse...

Obrigada...
Dizem que o acaso não existe e eu acredito nisto...
Hoje acordei com sede de palavras que me tocassem a alma...
Busquei um livro... e depois vim procurar uma imagem... "sem querer" encontrei o seu blog...
Suas palavras falaram com a minha alma, coisas que eu queria ouvir...
Obrigada...
Muita luz sempre...