quinta-feira, 15 de julho de 2010

As Flores de Cerejeira

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Há, no efêmero, algo de extraordinário.

Um carinho delicado, um beijo terno, uma flor, um beija-flor, uma nuvem solta no céu, uma folha caindo ao chão, teias de aranha com orvalho, um abraço demorado, um olhar cúmplice, um sorriso tímido, a vida, a morte...

É surpreendente o modo como coisas tão rápidas, pueris e as vezes até banais podem, em nossas vidas, com sua presença ou ausência, nos causar tão forte impacto e abalo. Somos, ao que tudo indica, seres de momento, e seres momentâneos. Há, nestas palavras, uma implicação tão profunda e tão filosófica, que seria impossível abarcá-la por completo em tão curto espaço, ou tempo. E, no entanto, mesmo elas são efêmeras.



Do efêmero, há algo que o representa bem: as flores. Há uma, porém, que o representa de modo todo especial: as flores de cerejeiras, destacando-se a Sakura, flor da cerejeira japonesa, Prunus serrulata. Há, inclusive, um nome específico ao ato de apreciar, socialmente, a beleza que há no efêmero fenômeno das flores: hanami. Li, em certo lugar, que hanami nada mais é do que a própria celebração da vida. De fato, há algo mais efêmero que a vida?

Hoje estamos aqui, mas nada nos garante que amanhã também estaremos. Podemos, num segundo, estarmos vivos e bem, e no segundo seguinte, não...

A vida é efêmera, no entanto, é bela. Nada poderia ser mais valioso, e no entanto, hoje em dia nada pode ser tão banal e pueril. A vida de um estranho não nos possui qualquer valor, e à ela somos até mesmo indiferentes quando elas se perdem. Mas não somos indiferentes às vidas de quem nos são próximos e queridos, e também não somos indiferentes às vidas que se perdem de maneira trágica e violenta. Nestas ocasiões, lembramos a nós mesmos, pelos outros, que nossas vidas também são efêmeras.



Realmente, há algo de intenso, belo, curioso e profundo no hanami. Só se celebra a vida quando se tem consciência da morte. Não há outro modo, não há outro meio. E é diante da possibilidade da "morte", por mais estranho que possa parecer, que compreendemos o valor do que temos, inclusive, e especialmente falando, das coisas efêmeras. Talvez até possamos entender, por morte, o simples fato de nos afastarmos definitivamente, ou perdermos completamente, algo ou alguém.


Se eu soubesse, hoje, que amanhã eu seria privado de toda e qualquer possibilidade de beijar qualquer outra pessoa, o beijo de hoje seria extremamente valioso, e permaneceria comigo terna e eternamente. Do mesmo modo, se eu soubesse agora, que em poucas horas eu perderia a visão para sempre, me apressaria a admirar a mais bela paisagem que eu pudesse encontrar. Creio, a partir de então, que se nos fosse possibilitado conhecer, sem qualquer desespero, o momento de nossa morte, então entre o agora e ela, aproveitaríamos mais, e melhor, o que há de efêmero em nossa efêmera existência.



Infelizmente nós, seres humanos, pelas limitações próprias de nossa humanidade e de seu momento evolutivo, não compreendemos com total sabedoria os valores do que temos, em especial, do que teremos fatalmente. A "morte", dentre todas as coisas, é um fim inevitável, mas que pode ser belo ou não. Aos que temem perder, perder é a pior coisa que existe. A "morte", então, nada mais é do que "perder". Muitos se desesperam, mas creio que este desespero se deve à própria ignorância e falta de preparo: não celebraram a vida quando puderam, portanto, no fim dela, se desesperam.



Hanami nos lembra disto. As Flores de Cerejeira nos lembram disto.

CARPE DIEM!

Colha o Dia!!!

Viva como se somente o agora existisse. Esqueça o futuro: viva o presente, com total intensidade, e com total deleite. Se alguém lhe abraçar, abrace de volta, como se aquele fosse o ultimo abraço de sua vida. Quem sabe não é? E se alguém lhe sorrir, sorria de volta. Quem sabe este não seja o ultimo sorriso dela? E se você ver um beija-flor, esqueça de tudo mais e o observe: está cada vez mais difícil encontrá-los... Passeie por bosques e jardins. Aproveite a natureza, que é, com suas cores, com seus aromas,  e com sua dinâmica e efêmera manifestação, a mais intensa demonstração da beleza, do amor, da sabedoria e da criatividade de Deus.

Falar sobre as belezas da vida e sobre a inevitável eminência da morte é, por si mesmo, efêmero. Ainda assim, é necessário. Compara-se, talvez, ao ato de deter-se, na agitação da vida, para apreciar um momento de delicadeza qualquer.

A vida merece ser vivida. O efêmero merece ser apreciado. Carpe Diem!

O resto, é resto é resto é resto...

2 comentários:

Rodrigo Sensei disse...

Se todos pudessem aproveitar as coisas efêmeras da vida, viveríamos em um planeta incrível!!

Wania disse...

Tenho problemas de depressão - sou bipolar - e mtas vezes já pensei em acabar com minha vida, porém qdo vejo as maravilhas criadas por este Ser Supremo q nos rege, fico envergonhada por tal pensamento e dou mais valor a td q tenho... Mtas pessoas gostariam de estar no meu lugar, sou perfeita na minha imperfeição, um ser humano completo tentando viver um dia de cada vez em toda sua totalidade... não é fácil mas tenho aprendido... qdo me deparo com pessoas q tenham uma clareza de pensamento como vc e descreve tão bem os sentimentos tenho cada vez mais certeza de q a vida pode ser maravilhosa. Belos pensamentos, belas palavras... incentivam o "carpe diem" e ajudam a melhorar o astral. Amo o Japão e suas cerejeiras - têm um significado ímpar p mim... são perfeitos.